Fiz
besteira.
Era
o que eu costumava dizer quando isso acontecia. Eu escolhia alguém de confiança
e dizia “fiz besteira”. Mas isso foi uma época diferente. Naqueles dias eu
procurava conforto e ajuda, enquanto hoje tenho a consciência de que foi só
dessa vez. Uma vez pelo ano inteiro, esse dois mil e doze que está finalmente
acabando.
Eu
me lembro bem do começo do ano, tão bons foram aqueles dias. Diziam-me que eu
parecia melhor, que no ano anterior eu andava abatida e tudo era verdade.
Naqueles primeiros meses fui tomada por uma leveza, uma calmaria e até
esperança que nunca conheci antes. Mas sempre fui feita de pedaços e não
demorou muito para que eu desmoronasse. Mesmo assim, algo estava mudando.
Comecei
a querer provar que era autossuficiente e este é um hábito que se mantém até
hoje. Preferi conviver esses duzentos e quarenta e cinco dias com os fragmentos
do meu corpo e alma do que deixar alguém me consertar. Também abandonei os
péssimos hábitos dos anos anteriores e passei a me apoiar somente em discos e
livros. E essa suposta autossuficiência me transformou em quem sou hoje, nove
meses depois de me dizerem que eu “parecia melhor”.
Gosto
e desgosto dessa nova versão do meu eu. O reencontro (e em alguns casos
encontro) com a literatura e boa música me permitiu abrir os olhos para
inúmeras coisas, mas choque de realidade pode doer. Porém, essa foi a minha
escolha, a minha preferência de entender e sofrer a realidade do que continuar
a viver naquele mundinho estúpido onde eu precisava
me encaixar. Acredite, apesar do teor cansado e melancólico deste relato, não
me encaixar foi a melhor escolha.
E
assim o ano se desenrolou através de vales e montanhas. Agora que paro para
pensar, o ano foi curto, mas as noites foram longas. Nunca fui muito próxima do
sono, mas este ano ele pareceu terminar definitivamente o relacionamento
comigo. Eu deitava (ou deito, pois estou na mesma situação neste exato momento)
na cama e esperava por horas intermináveis pelo segundo de misericórdia onde eu
finalmente cairia no sono. As noites sempre foram, para mim, o velho paradoxo
de contentamento descontente. São o meu momento de inspiração, de criatividade,
de vontade de escrever, e de pensar. Pensar é perigoso.
Sem
mais delongas, dois mil e doze foi um ano dispensavelmente indispensável
(gostei dessa coisa de paradoxos hoje, hein?). Ouvi coisas que gostaria de
poder apagar, fiz coisas que me arrependo mais do que em anos anteriores.
Aprendi muito. Com livros, músicas e pessoas, apesar de eu não ser uma pessoa
tão agradável quanto costumava ser. E todos esses sentimentos, lembranças e
palavras que eu gostaria de apagar vieram à tona hoje e eu precisei tirar isso
de mim. Da única maneira que eu conhecia.
Não
me arrependo. Como disse no começo, foi só uma vez pelo ano. Foi só pelo
sentimento de leveza do “afterwards”.
E
eu aprendi que essa leveza é insustentável.
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