É noite de espetáculo,
de cores tão vivas e pessoas tão mortas;
de casos e acasos tão longes do solo.
Ora, mais valem verdades por linhas tortas!
Me mostram sorrisos tabelados
e me vendem mentiras ensaiadas.
Condenam olhares chocados
e condenam máscaras desmascaradas.
Um dia o velho gritou "Não é certo!
No meu tempo as coisas foram diferentes...
Na minha época não fiquei quieto,
na minha época me arrancaram os dentes."
Cretino! Mentiroso!
Século atrás, século a frente
e diga-me, mudou o quê?
Não houve povo outrora contente.
Desde sempre pessoas por quê?
Humano, de menos humanos;
de movimentos planejados,
de alegria por baixo dos panos,
de pensamentos engradados.
Dos velhos arrancam as dentaduras
enquanto dos jovens arrancam as asas.
Algo falta, sempre falta.
Falta o algo.
Algo pelo que gritar, mudar, quem sabe até lutar.
Falta o que falta, falta o algo.
Esse algo que não sei, falta decifrar
Falta que o algo torne-se algo.
Humanos, de menos humanos.
Condenados a sentir falta desse algo
que nos torne demasiadamente humanos.
Mas ser humano dá preguiça.
E preguiça não rima com algo.
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