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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Sobre Dire Straits e redescobrir a paixão pela música

paixão
1.Sentimento tão forte quanto o amor, mas efêmero, provocador, impulsivo, desesperado, inquieto. 

Há alguns anos, eu era extremamente ávida pela escrita. Uma busca rápida pelos arquivos deste blog mostra que há 2 ou três anos não havia dia que se passasse sem algum conto, reflexão, história ou só palavras jogadas fora. Escrevia pelo prazer de escrever, pelo corte que arrancaria o tourniquette que eu nem ao menos sabia que estava lá, mas ao ser arrebentado me permitia respirar. Aí, bom, chegou a vida adulta (de verdade).
As preocupações com dinheiro, emprego, faculdade me fizeram cair naquele clichê que eu tanto criticava: as pessoas que não têm tempo para si. Eu passei a dizer a mim mesma que não tinha tempo para escrever, para ouvir um Animals da vida com a mesma dedicação de antes, para reler 1984 pela trigésima vez e descobrir algo novo sobre a obra. Eu me afastei de todas as coisas que me moldaram e, bem, eu estava ok com isso.
Até que há algumas semanas, eu ouvi o Communiquè. Aquele álbum do Dire Straits que me fez escolher o Jornalismo como profissão. E esse álbum me encheu de uma nostalgia que só o timbre do Mark Knopfler podia provocar em mim. Essa voz grossa, rouca, a melodia que praticamente dança como as palavras de Cortázar, os personagens tão diferentes e iguais em essência e que me transportaram diretamente para a primeira vez que ouvi os acordes iniciais de Once Upon a Time in the West.
Cara, que paixão eu tenho por esse álbum. Paixão porque é mais do que amor, é um desejo impulsivo e desesperado de fazer parte da música (and the music make her wanna be the story and the story was whatever was the song, what it was). Comecei a refletir sobre a música, como há muito não fazia, e perceber que eu mordia os lábios para não sorrir ao cantar News. Que meu corpo gelava com determinadas notas e variações de tom em Single-Handed Sailor. Que era impossível não dançar ao som de Lady Writer. Foi aí que eu redescobri minha paixão por tudo. Pelos livros, pela música, por mim.
Parece estúpido dizer que um simples álbum pode mudar tanta coisa na sua semana, mas música nunca foi algo que poderia ser descrito com a palavra “simples” para mim. Um trecho de Radio Gaga, do Queen, diz que “everything I had to know I heard it on my radio” e é exatamente assim que me sinto – todas as lições valiosas, realmente valiosas, foram aprendidas com a música.
Este é, portanto, mais um dos meus velhos textos de agradecimento. À Mark Knopfler e sua banda por produzirem música tão boa, tão ridiculamente boa que é capaz de alterar percepções e fazer de mim uma pessoa melhor. Obrigada por me lembrar de por que eu digo gosto de música, e não apenas ouço. Obrigada por... bom, existirem.

E fica aqui a minha promessa de um segundo encontro com as palavras.


She gets rock and roll and a rock and roll station and a rock and roll dream

domingo, 20 de outubro de 2013

Um monólogo sincero

Às vezes eu sinto vontade disso. De ter uma conversa séria comigo mesma e afastar aquelas metáforas que eu tanto amo e temo. Você sabe, usar palavras simples, sentenças diretas e não camuflar o que é feio e tento tornar bonito. E sabe qual é a coisa mais sincera que eu posso dizer? Nada mudou.
Tenho escrito muito sobre 2012 x 2013, inocência x malícia, infância x adolescência, mas de verdade, eu sempre soube que esse seria o meu caminho. Sempre tive aquele pé depois das 10h da noite e a velha mania de gentileza durante o dia e aquela coisa de "miss nothing" quando a noite chega. Nada mudou.
Também tenho escrito muito sobre chapéus e desconhecidos, mas alguns dias são inesquecíveis, sabe. A primeira noite, a troca de Hitchcock por um batom cor-de-rosa e a noite do cinema. E por mais que eu tenha encontrado aquele Julian Casablancas e disfarçado com outras palavras o que eu queria verdadeiramente dizer para você, bem... Nada mudou.
Hoje é dia de Whitesnake. Dia de "Hanging on the promises and songs of yesterday and I've made up my mind, I ain't wasting no more time" e "I knew your name was trouble but my heart got in the way". Principalmente essa história de saber que você seria um problema e não ter medo logo no começo. Agora eu tenho. E essa é a segunda maior verdade que eu posso dizer. Nada mudou. E eu tenho medo de você.

domingo, 11 de agosto de 2013

Closer to the edge...

28.07

I don't remember the moment I tried to forget
I lost myself, is it better not said?
Now I'm closer to the edge...

Se hoje fosse há um ano, eu estaria entre as paredes de uma biblioteca com o rosto enterrado nas páginas de um livro que fizesse vista grossa ao mundo onde vivo. Hoje, em 2013, o ceticismo e niilismo são deixados para trás escada acima e noite adentro.

Se nesse mesmo dia há um ano eu viesse a conhecer alguém que falasse e agisse como eu, a tendência seria que minha mente recitasse esporadicamente Young Lust ou qualquer outra melodia que condenasse e traduzisse a incapacidade de compreender um universo onde uma noite perfeitamente adequada para um romance noir fosse gasta na iluminação fraca de luzes piscantes.

Hoje eu decidi viver como dois mil e doze; aquecida, confortável, descansada. Um copo de café na mão e aquele velho filme da Audrey Hepburn que me ensinou que não pertencemos a ninguém e o que são os dias vermelhos. Me perguntei qual seria o meu caminho até um lugar como a Tiffany's. Você sabe, que seja como um lar e me deixe ser dona das coisas.

Como 2013 foi dono do meu ser; Julho chegou e se foi para me ensinar que deixar as coisas fluírem nem sempre é a melhor opção. Dormir é bom e acordar pode ser melhor ainda. A resposta é o equilíbrio. Que Julho seja o equilíbrio entre os anos passados, que virão e um gato com um nome.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Coffee and cigarettes

 Hello there, the angel from my nightmare. Faz um bom tempo desde que sentamos e conversamos, não é mesmo? Cale-se; não quero ouvir de você, sou eu que venho para falar hoje. Eu terminei o ensino médio! Lembra-se do meu desespero? Como eu costumava surtar no primeiro ano por não conseguir resolver uma questão da FUVEST? Acontece que nem a FUVEST eu quis, embora tenha passado (acredita nisso?). Eu passei no vestibular da Cásper Líbero - te lembra alguma coisa, eu sei. E agora vou cursar Jornalismo no período da noite, o que vai ser cansativo porque estou trabalhando. Você adoraria o meu local de trabalho! Acho que você até costuma passar algumas tardes lá, na Livraria Cultura, no meio dos seus filmes. Vou te contar que é tão bom trabalhar lá como ser cliente, embora muitas vezes eu chegue arrancando os cabelos de estresse. Acho que eu tô crescendo, me conhecendo, não sei, mas as coisas estão mudando e está tudo bem. Eu fiz dezoito anos. Minha vida anda meio noturna, sabe? Eu descobri que dançar faz bem e que tudo parece melhor sob o luar. Mas isso também é confuso, e tenho andado perdida com algumas coisas; sei que você poderia me ouvir e me ajudar, mas vamos deixar isso pra outra hora, tá? Agora eu prefiro falar sobre esses rumores do The Who vir pro Brasil com a turnê do Quadrophenia. Maravilhoso! Imagina só ver o Roger e o Pete cantando Helpless Dancer, imagina como eu gritaria YOU STOP DANCING! e saberia que nada me pararia. Céus, nada nos pararia... Te contei que eu fui no show do Paul McCartney? Sei que você não gosta de Beatles, mas que noite! Até hoje eu consigo sentir os fogos de Live and Let Die e me arrepiar só de pensar naquela Eleanor Rigby ao vivo. Você se sentiu assim no show do Aerosmith? Não ouço Aerosmith há décadas. Engraçado, costumava ser uma das minhas bandas preferidas, depois de todo o tempo que passei sem ouvir a banda só pra jogar charme pra você. Tenho a discografia inteira no celular, tenho medo de ouvir e não consigo apagar. Por favor, não se incomode com essas lágrimas nos meus olhos - é só coisa de adolescente, sabe, algumas coisas dão saudades. Me disseram que o tempo te faria menos importante e... Quanto tempo faz? Anos. E você é meu melhor amigo, mesmo que a conversa seja um monólogo (mal feito, devo dizer). Mas tá tudo bem, eu me acostumei e eu chego ao fim de cada dia. Vou continuar sonhando, cantando até virar realidade, eu aprendi o que me ensinou. Só vim aqui hoje para te contar que eu estou feliz com tudo o que tenho conseguido. Me deseja boa sorte para esse futuro tão próximo? Sabe que suas palavras são meu amuleto. Ou até seus pensamentos. Desde que eu ainda exista em algum lugar de você. Ou não. Você existe em mim o suficiente por nós dois.
Att.
não sei o porque do título

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

vera, what has become of you?

 Trocou a esperança inocente pelo sorriso de crocodilo. Já não é mais Junho querida, e os meses corridos te moldaram até que não reconhecesse a tua sombra ao meu lado, à minha frente. Repito de novo e mais uma vez; não me ensinou a ficar sem a sua presença mas já sei me virar. E o faço melhor que você - sou melhor atriz no seu teatro melancólico com máscaras felizes. Talvez até caberia jogar aqui um "do you remember me and how we used to be and do you think we should be closer?", mas ora, eu tentei e por quatro vezes tive as mãos atadas enquanto sentia os laços se desintegrando. Corda fina essa que usamos.
 Um dia você vai crescer, mon amour. Espero que você cresça, e olhe ao seu redor apenas para encontrar os espaços vazios onde nós estávamos. E talvez você olhará para trás e dirá que não deveria ter me afastado para longe. Talvez eu esteja te esperando. Talvez eu volte a ser sua melhor amiga. Talvez, talvez, e talvez.
 No final do dia... Só estou sendo feliz.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

...we came in?]

 Não pude encontrar um título melhor do que a elipse do The Wall, porque, bem, isso é algo que nunca acaba. Sei que sou eu que continuo nesse eterno-retorno de sentir a sua falta e estar disposta a trocar tudo o que me aconteceu nos últimos dois anos se isso me deixasse voltar no tempo e fazer as coisas direito, deixar a vida acontecer como deveria.
 Essa manhã foi só mais um devaneio, um daqueles dias onde de alguma forma encontro maneiras de me orgulhar do que me tornei e que tento desesperadamente achar uma maneira de compartilhar o que sou hoje com você. Sou diferente do que era quando te machuquei, do que quando você me machucou.
 E como todas as vezes que tento escrever sobre você, não sei como terminar.

[Isn't this where...

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Se lembra quando...

Mudaram as estações, nada mudou, mas eu sei que alguma coisa aconteceu,
tá tudo assim tão diferente... Se lembra quando a gente chegou um dia
a acreditar que tudo era pra sempre sem saber que o pra sempre sempre acaba?
Mas nada vai conseguir mudar o que ficou, quando penso em alguém só penso
em vocês e aí então estamos bem. Mesmo com tantos
motivos pra deixar tudo como está. Nem desistir nem tentar e agora
tanto faz... Estamos indo de volta pra casa.

 É triste pensar nessa música, né? Quatro anos pareciam tanto tempo e agora não tenho nem o direito de mais seis horas com vocês. É o fim da maior e melhor parte das nossas vidas, chegou a hora de crescer e eu o fiz com vocês. Existem pedaços de cada aluno do Passionista em mim, existem lembranças, palavras, risadas e até lágrimas que fizeram parte do processo de transformação em tudo o que sou hoje. Marília, foram quatro anos falando de McFly, sendo idiotas e desabafando juntas e você era para quem eu corria quando precisava de um ombro que me entendesse. Gabi e Marcela, queria ter me aproximado de vocês antes... Mas o 3MA só se tornou suportável por ser ao lado de vocês, rindo da Marília ou até mesmo dormindo nas aulas. Erick, já disse que vou sentir saudades da sua risada escandalosa, né? Isabela,  das suas trufas e suas patadas. Gi, Mayara 1, Mayara 2, Pri 1, Pri 2, vocês fizeram três meses parecerem três dias, e acreditem, eu NUNCA vou esquecer vocês. Matheus, seus comentários desnecessários e nojentos vão deixar um vazio nas minhas manhãs. Victor, você é um idiota que deixou a minha bochecha roxa pro primeiro dia de trabalho e você sabe que eu te odeio só que... eu não te odeio e vou sentir MUITO a sua falta. Cuevas, lembro de você toda vez que tomo café e isso é todo dia, e nada mais justo do que te zoar mais uma vez porque sabe como é, as pessoas bebem mais café do que água. Marcos, Fernanda, Arthur, Michelli, quando eu conversava com vocês era coisa de horas e vocês me fazem tão bem. Guilherme, você me irrita e minhas manhãs serão um silêncio inimaginável sem as suas músicas e hiperatividade. Ananda, bom... Você fez o meu ano inesquecível e sabe, pode ser que eu nunca mais venha a falar com você mas eu sempre serei agradecida por você ter feito parte da minha vida. Por mais que às vezes eu pense que eu te odeio eu meio que te amo, e vou sentir saudades. Mais do que você pensa. Bárbara, Vivi, Milene, Aline, Guido,Otávio, Victor, enfim... Todos vocês vão fazer falta no ano que vem e não tenho nada além de obrigado a dizer. Obrigada por me ensinarem que a escola é um ambiente de aprendizagem que transcende as salas de aulas e a grade curricular. Obrigada por todas as brigas, todos os momentos de tensão e de alegria. Obrigada por me deixarem felizmente infeliz nesse final de 2012. Sabe, eu amo todos vocês.
E Thaís, Rafael, Stefanie, Leonardo, Henrique, Gabriela e Thalita (que não estão na escola mas eu preciso falar). Não tenho nada a dizer sobre vocês porque eu sou nada sem os sete e isso não acabou aqui.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

live and let live

 Tenho passado as noites tremendo de ansiedade e os dias delirando de sono.
 Não consigo escrever, quem dirá dormir. Já faz tempo. Isso é síndrome de história não resolvida, sabe? De medo do ano que vem (pra quem planeja cada minuto do dia, não saber o que estarei fazendo em 2013 não é legal). De coisa demais acumulada, de coisa que nem o mais apertado tourniquet pode segurar, quando mandar o explode coração! não daria certo. Eu quero o meu amor se derramando.
 É tempo de nostalgia de um período não tão longe assim, só um ano atrás. Quisera eu ter de volta a euforia de um ano novo, a confiança relativa que eu tinha em mim mesma. É perdendo que a gente aprende a dar valor. Mas é também perdendo que a gente aprende que não tinha valor; é apanhando que se aprende que não dá pra esperar só coisa boa das pessoas.
 Mas nem tudo nesse meio é ruim. Tenho convivido com alguma esperança, veja, de que as coisas vão voltar a dar certo. Com um novo emprego, sensação de estar crescendo e finalmente tomando a autonomia que sonhei por 18 anos. Claro que isso bate de frente com o medo de ser responsável por mim mesma e não saber o que fazer com isso - mas me sinto bem da mesma forma.
 Essa é a verdade, na verdade. Gosto dessa mistura de sentimentos. Acho que mudei desde que comecei a escrever esse texto; acho que recuperei parte da euforia. Quem sabe até consiga dormir hoje à noite.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Carta para ninguém

 Fiz besteira.
 Era o que eu costumava dizer quando isso acontecia. Eu escolhia alguém de confiança e dizia “fiz besteira”. Mas isso foi uma época diferente. Naqueles dias eu procurava conforto e ajuda, enquanto hoje tenho a consciência de que foi só dessa vez. Uma vez pelo ano inteiro, esse dois mil e doze que está finalmente acabando.
 Eu me lembro bem do começo do ano, tão bons foram aqueles dias. Diziam-me que eu parecia melhor, que no ano anterior eu andava abatida e tudo era verdade. Naqueles primeiros meses fui tomada por uma leveza, uma calmaria e até esperança que nunca conheci antes. Mas sempre fui feita de pedaços e não demorou muito para que eu desmoronasse. Mesmo assim, algo estava mudando.
 Comecei a querer provar que era autossuficiente e este é um hábito que se mantém até hoje. Preferi conviver esses duzentos e quarenta e cinco dias com os fragmentos do meu corpo e alma do que deixar alguém me consertar. Também abandonei os péssimos hábitos dos anos anteriores e passei a me apoiar somente em discos e livros. E essa suposta autossuficiência me transformou em quem sou hoje, nove meses depois de me dizerem que eu “parecia melhor”.
 Gosto e desgosto dessa nova versão do meu eu. O reencontro (e em alguns casos encontro) com a literatura e boa música me permitiu abrir os olhos para inúmeras coisas, mas choque de realidade pode doer. Porém, essa foi a minha escolha, a minha preferência de entender e sofrer a realidade do que continuar a viver naquele mundinho estúpido onde eu precisava me encaixar. Acredite, apesar do teor cansado e melancólico deste relato, não me encaixar foi a melhor escolha.
 E assim o ano se desenrolou através de vales e montanhas. Agora que paro para pensar, o ano foi curto, mas as noites foram longas. Nunca fui muito próxima do sono, mas este ano ele pareceu terminar definitivamente o relacionamento comigo. Eu deitava (ou deito, pois estou na mesma situação neste exato momento) na cama e esperava por horas intermináveis pelo segundo de misericórdia onde eu finalmente cairia no sono. As noites sempre foram, para mim, o velho paradoxo de contentamento descontente. São o meu momento de inspiração, de criatividade, de vontade de escrever, e de pensar. Pensar é perigoso.
 Sem mais delongas, dois mil e doze foi um ano dispensavelmente indispensável (gostei dessa coisa de paradoxos hoje, hein?). Ouvi coisas que gostaria de poder apagar, fiz coisas que me arrependo mais do que em anos anteriores. Aprendi muito. Com livros, músicas e pessoas, apesar de eu não ser uma pessoa tão agradável quanto costumava ser. E todos esses sentimentos, lembranças e palavras que eu gostaria de apagar vieram à tona hoje e eu precisei tirar isso de mim. Da única maneira que eu conhecia.
 Não me arrependo. Como disse no começo, foi só uma vez pelo ano. Foi só pelo sentimento de leveza do “afterwards”.
                E eu aprendi que essa leveza é insustentável. 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Idalina

 Odeio aquelas conversas de hospital. "O que está tomando? Mora perto daqui? Veja, seu soro está acabando!" Não o meu. Quem me dera o mal-estar fosse apenas físico... Algumas coisas não são resolvidas com um litro de soro. Na realidade, hospitais são deprimentes. Todo aquele clima de abatimento, de doença, de preocupação, que faz pensar na morte. Não que o problema seja a morte, nunca tive esse medo do ato em si, mas é estranho pensar em um mundo sem mim porque tudo o que conheço é o mundo comigo! Bate aquela curiosidade de como ficarão sem você. A experiência me diz que dói, mas um dia você simplesmente aceita e para de pensar em quem se foi, até que um dia a lembrança volta e você se condena por não pensar em quem já foi tão querido um dia. Lembrei do sorriso dela; do brilho em seus olhos enquanto cuidava daquele jardim, aquelas flores que tanto amava, do afeto para com a casa, o amor pela natureza que a cercava. Sei, parece idealização, mas ela realmente existiu e eu cresci com ela. Contava os dias para os finais de semana e amava cada quilômetro da estrada para Arujá. E como era bom correr por aquele sítio, passar horas lendo com aquele ar de paz, de natureza, de tranquilidade, e tê-la ali sorrindo, brincando, contagiando qualquer um com o bom-humor e as festas semanais - todo dia era dia de comemoração. E de repente tudo isso acabou. A criança cresceu, e aquela tia amada se foi. Tão jovem e cheia de vida, como foi estranho não viajar mais, não contemplar os quadros que ela pintava com tanta perfeição. Tantos anos se passaram... Morrer é fácil. Quem morre não sente. Mas a morte deixa esse gosto amargo para quem fica, e ela não ensina a mudar a rotina, não existem meios para aprender a seguir em frente sem alguém tão importante. Mas temos que ir alguma hora, não é? Então que quando seja a minha vez, possa dizer que dei tudo o que podia dar de mim para as outras pessoas. Que eu não seja lembrada como a pessoa fria que me tornei, mas como ela. 
Dedicado a você, Idalina, onde quer que esteja. Você me deu momentos tão bons, por mais criança que fosse. Sinto a sua falta.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Todos os meus livros têm manchas de café

 Parei pra pensar no café.
 Nunca fez muito sentido, esse meu amor pelo café.
 Não só amor - admiração, vício e até uma certa idolatração.
 Adulação.
 Porque é o café minha divindade, meu transcendente, meu rei e governante.
 O café não te abandona, não faz de você mero objeto.
 O café não te machuca.
 É capaz de transformar a fervura em conforto
 E o amargo em alívio.
 É um prazer simples, alcançável, fácil.
 Não é preciso esperar que o café te encontre.

(Achei isso num caderno antigo, e sim, ele termina de repente... Não lembro o por quê disse mas foi interessante ver coisa passada.)

domingo, 7 de outubro de 2012

E foi por bem querer...

 Eu sou sua menina, viu.
 E hoje o coração não tá cheio de poesia; hoje aumento o volume da música, mas a guitarra do David Gilmour não é alta o suficiente para calar os pensamentos. Hoje vejo como a Lua é grande - ela é grande, eu sou pequena. Hoje eu procuro o seu lado sombrio, e não pergunte como! encontrei o arco-íris na noite.
 Sou o apunhado de pedaços que espalham-se pelos lugares, pela cidade, pelo país. Pode me encontrar nos paralelepípedos de São Paulo ou no mar salgado do Rio de Janeiro; no tédio do Rio Grande do Sul ou no passado de Santa Catarina. Vá em frente, é sua vez de tirar outro pequeno pedaço! Guarde-o onde quer que esteja, essa parte tem o seu nome escrito, senhor - essa parte espera pela dor do bisturi arrancando-a. Doce é a dor, doloroso é o amor.
 Me fiz em mil pedaços pra você juntar. 

sábado, 22 de setembro de 2012

Now in a heartbeat, I would do it all again

18/08/2012
 Encosto a cabeça no travesseiro; o silêncio faz com que as batidas do coração se tornem irritantemente altas (parece até hipnopedia). Coloco os fones de ouvido, e droga!, o mesmo maldito som ecoa na primeira música do Dark Side of The Moon. Dá vontade de gritar, arrancar, entregar-te o que há tanto já é seu. 
 Não o quero mais - dói demais. Descartar a página já não funciona mais, querido, tornou-se tão impregnado quanto a tinta da tatuagem que diz para deixar estar. Já és parte de mim; deixa-me ser parte de ti. 

"Não vale a pena passar a vida escrevendo."

21/08/2012
 Na mesa, o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e a tal biografia do Paul McCartney descansam desordenados; o copo de café já nem esquenta mais. Está frio, mas recuso o aquecimento da jaqueta de couro desbotada - um capricho, por certo vou reclamar quando ficar doente. Insuportável, amaldiçoo os adolescentes que insistem em ignorar os pedidos de silêncio na biblioteca.
 Insuportável, de fato. É impossível não pensar no quão fria venho me tornando, e em como há um ano eu não suportaria a ideia de sair sozinha ou ficar sem companhia durante muito tempo. Aprendi a achar um amigo nos livros, um amante na música e a necessidade de comunicação no papel e caneta; um afago nos raios de sol do Ibirapuera e autocomiseração no vento frio da Paulista.
 Afinal, aprendi a ser meu próprio soma. Não sei se é defeito ou qualidade; sei que muitas vezes sinto falta do que costumava ser. "Não vale a pena passar a vida escrevendo", disse alguém na Biblioteca de São Paulo. E se escrever for tudo o que ainda existe do meu antigo eu?

Seu nome bem que podia estar aqui.

15/09/2012
 Não sei por quê resolvi escrever. É esse estado de "bêbada de sono" que faz querer digitar qualquer coisa, como se estivesse falando com alguém mas é sempre esse leitor inexistente. Cansei desse monólogo e fui procurar aquela que me deu a luz; caí em lágrimas. "Você tem que ser mais como eu, não dá pra ficar nessa dúvida", ela disse, e droga!, sei que ela está certa. Mas dá medo. Medo de perder o que tenho agora, que é melhor do que nada. Os textos são os mesmos há tempo demais, meu amor. E a situação é a mesma - por quê tem que ser ou rápido demais ou devagar demais? E mesmo que seja devaneio... a dúvida é insuportável. E por mais que a balança tenda para o negativismo, tem o maldito "e se". Dá medo. Medo de perder o pouco que tenho de ti. Medo de que deixes de ser passado, presente e futuro. E ainda assim sei que qualquer coisa é melhor do que esses joguinhos que podem ou não ser reais, assim como pode ser sim ou pode ser não, mas e se não for? E se for, corro o risco de perder tempo demais, assim como gastamos tempo de menos. Parece patético dizer isso quando apenas alguns meses se passaram, mas éramos jovens, muito mais jovens do que agora. Nunca nos encaixamos bem nessa coisa de adolescência, querido, mas não existe drama adolescente maior do que este em que me colocaste. Não me deu a chance de saber se é amor ou só um desejo irrefreável de ter-te mais perto do que agora, mas se a arma é o seu amor, atarei minhas mãos para você. O que quer que tenha sido, é o que quero. E o quero prolongado - e sei que assim posso tê-lo. Mas dá medo. Medo de ter entendido tudo errado; às vezes as palavras querem dizer o que querem dizer. E atos e olhares nem sempre vem carregados de dores e amores, às vezes são apenas produtos do ócio que me diz sentir. E ainda assim quero arriscar, mas onde está a maldita coragem? Não a tenho, pois sei que talvez tenha mais a perder do que a ganhar. E já perdi demais. Além disso não me ensinou a te esquecer. Você voltou quando comecei a sentir tua falta, assim sendo nunca tive a oportunidade de sentir o cheiro da sua ausência, e o temo. Temo que o odor seja desagradável - temo que eu me torne desagradável. Não sei como concluir esse texto porque não sei concluir o pensamento. Cabe aqui um "falar ou não falar: eis a questão". 

This girl wants you back again.

17/09/2012
 Sou aquelas cujos olhos pesam como as pedras que imagino carregar - sou aquela que não dorme há dias. Sou dona de lábios secos e cabelos descuidados. Sou quem canta melodias antigas e carrega livros empoeirados de páginas amarelas. Sou quem atravessa a cidade em busca de prédios mais altos e ruas mais largas. Sou quem encara estranhos e inventa suas histórias. Sou quem reza aos vermes e grita aos deuses. Sou quem tudo nota e nada diz. Sou quem pula do penhasco só para sentir o vento. Sou quem ri das sete faces do divino; metafísica não é bem o meu forte. Sou quem forja a espada e deixa de brandi-la. Sou quem corre sem paradas apenas para voltar duas casas. Sou quem atravessa o oceano e clama pelo conforto desidratado de um lar. Sou quem ri diante da perfeição. Sou quem declara guerra ao amor e, ainda assim, sou a tola que te deixou explodir no coração. Sou quem nada mais escreve, além de palavras mesquinhas sobre o amor. Ah, l'amour, l'amour... O estúpido e masoquista amor. Sou quem cansou de resistir. Sou quem, seu teu consentimento e conhecimento, entregou-se inteiramente a você. Sou quem canta this girl wants you back again. Sou quem teme e deseja sua voz. Sou quem se perde onde teus olhos começam. Sou quem se perde e te encontra. Sou quem bate à porta do clichê em teu nome. Sou quem canta e grita mas só pensa: this girl wants you back again.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Está chovendo de novo; pena que perco um amigo.

 "Será que esse Sol nunca vai embora?", ela se perguntava, fazendo o tão conhecido caminho para casa. Observava as pessoas ao seu redor; gostava de inventar suas histórias, que viajavam entre mulheres que flertavam com homens ao longo das ruas da cidade apenas para terminar a noite sozinhas, e crianças que dentro de alguns anos tornariam-se artistas com o coração sangrento. Imaginava histórias, e esquecia-se de escrever a sua própria - ela talvez não achasse interessante a maneira como as coisas seguiam naqueles dias ensolarados. O Sol não é tão interessante como a chuva, assim como a estabilidade não é tão espetacular quanto a instabilidade.
 Deparou-se com cinco ou seis crianças que corriam em círculos, umas atrás das outras, e soltavam gargalhadas altas e gritos de surpresa quando alguma delas tropeçava. Foi atingida por um sentimento de nostalgia, invadida por memórias dos anos em que a faculdade, os estereótipos, o dinheiro, a amizade, o amor, a responsabilidade e sua própria existência não eram fatores importantes. "Como é fácil", ela pensou, "brincar em cadeiras de balanço, sem se preocupar com a idade que se tem". E como a idade os dezessete anos são um problema! Não são dezesseis e nem dezoito. Como pode uma pessoa agir como dezessete?
 - Você age como criança às vezes.
 - E qual o mal nisso?
 - Não vai dar certo. Eu não sou criança. 
 - Pois devia. 
 - ...
 - Vou sentir sua falta.
 - ...
 Uma pequena gota de chuva escorreu de seus olhos. Quase conseguia vê-lo ali na sua frente, embora soubesse que ele estava longe demais para ser visto. Cerrou os olhos numa tentativa inútil de se prender àquela alucinação. As gotas da chuva eram agora pesadas e não havia muito o que se enxergar, e ela correu. Correu para onde ele estivera. E tudo o que encontrou foi o portão de casa.


P.s.: Vou colocar meus textos aos poucos aqui. Acontece que blogspot é mais fácil que o weebly haha