Lembrai, lembrai do 5 de novembro. Lembrai de como Deus está na chuva. Já parou pra pensar que Deus não precisa ser uma divindade nesse contexto? Tudo o que você é pode ser essa chuva fina da Avenida Paulista. Sua ideologia. O homem que te encara e em seguida beija as mãos da namorada em sinal de culpa pelo ato despercebido. A mulher que grita para os manifestantes irem pra casa sem saber que democracia significa o barulho na cidade. A falta de uma resposta e a conversa indesejada.
Todos os dias eu desço as escadas da estação Brigadeiro sabendo que sou Evey ou Alice e seus pensamentos. Ali atrás não há sinal de estrelas. Isso vale uma metáfora pobre quando se pensa que cada estrela apagada foi uma promessa quebrada, uma ponte desmoronada e uma palavra riscada. Vai me chamar de descrente, niilista - mas o tempo me fez assim. Pessoas e experiências me distanciam da fé de que existe um propósito nisso tudo. Cada cigarro apagado na rua é símbolo de uma tentativa desesperada de se segurar em qualquer coisa palpável nessa São Paulo abstrata.
Talvez seja o 5 de novembro. Talvez seja a coragem desvalorizada e não respondida. Talvez seja O Caçador de Pipas. No fim do dia, a chuva é o que resta de cada minuto que poderia ser apagado. Qualquer coisa para esquecer todas as coisas.
Cheguei ao seu blog por acaso, você escreve muito bem. Seu tom melancólico me deixa assim também, se for a mesma sensação que você sente ao criar seus textos e se for seu objetivo passar essas sensações para o leitor, está conseguindo transpor perfeitamente tudo isso no seu discurso. Ganhou um leitor!
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