paixão
1.Sentimento tão forte quanto o amor, mas efêmero, provocador, impulsivo, desesperado, inquieto.
Há alguns anos, eu era extremamente ávida pela escrita.
Uma busca rápida pelos arquivos deste blog mostra que há 2 ou três anos não
havia dia que se passasse sem algum conto, reflexão, história ou só palavras
jogadas fora. Escrevia pelo prazer de escrever, pelo corte que arrancaria o
tourniquette que eu nem ao menos sabia que estava lá, mas ao ser arrebentado me
permitia respirar. Aí, bom, chegou a vida adulta (de verdade).
As preocupações com dinheiro, emprego, faculdade me
fizeram cair naquele clichê que eu tanto criticava: as pessoas que não têm
tempo para si. Eu passei a dizer a mim mesma que não tinha tempo para escrever,
para ouvir um Animals da vida com a mesma dedicação de antes, para reler 1984
pela trigésima vez e descobrir algo novo sobre a obra. Eu me afastei de todas
as coisas que me moldaram e, bem, eu estava ok com isso.
Até que há algumas semanas, eu ouvi o Communiquè.
Aquele álbum do Dire Straits que me fez escolher o Jornalismo como profissão. E
esse álbum me encheu de uma nostalgia que só o timbre do Mark Knopfler podia
provocar em mim. Essa voz grossa, rouca, a melodia que praticamente dança como
as palavras de Cortázar, os personagens tão diferentes e iguais em essência e
que me transportaram diretamente para a primeira vez que ouvi os acordes
iniciais de Once Upon a Time in the West.
Cara, que paixão eu tenho por esse álbum. Paixão porque
é mais do que amor, é um desejo impulsivo e desesperado de fazer parte da
música (and the music make her wanna be the story and the story was whatever
was the song, what it was). Comecei a refletir sobre a música, como há muito
não fazia, e perceber que eu mordia os lábios para não sorrir ao cantar News.
Que meu corpo gelava com determinadas notas e variações de tom em Single-Handed
Sailor. Que era impossível não dançar ao som de Lady Writer. Foi aí que eu
redescobri minha paixão por tudo. Pelos livros, pela música, por mim.
Parece estúpido dizer que um simples álbum pode mudar
tanta coisa na sua semana, mas música nunca foi algo que poderia ser descrito
com a palavra “simples” para mim. Um trecho de Radio Gaga, do Queen, diz que
“everything I had to know I heard it on my radio” e é exatamente assim que me
sinto – todas as lições valiosas, realmente valiosas, foram aprendidas com a
música.
Este é, portanto, mais um dos meus velhos textos de
agradecimento. À Mark Knopfler e sua banda por produzirem música tão boa, tão
ridiculamente boa que é capaz de alterar percepções e fazer de mim uma pessoa
melhor. Obrigada por me lembrar de por que eu digo gosto de música, e não
apenas ouço. Obrigada por... bom, existirem.
E fica aqui a minha promessa de um segundo encontro com
as palavras.
She gets rock and
roll and a rock and roll station and a rock and roll dream