segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

É noite de espetáculo. onde estão as pessoas mortas?

 Trinta e um de dezembro. Um daqueles dias marcantes todos os anos, não é como por exemplo o doze de meio ou sete de agosto. Todos se lembram do trinta e um de dezembro. Todos são um só nessa noite, e tanta coisa é esquecida que dá gosto caminhar por São Paulo e ouvir os que começaram a festejar cedo demais gritando sem amor. O amor fica vem mais tarde.
 Eu sou chata, cara, isso não é novidade pra ninguém, e reclamei desse ano mais do que o coitado mereceu. Dois mil e doze foi bom pra mim. Por meses eu desejei que este trinta e um de dezembro chegasse e agora o que quero é tirar o trinta. Eu me formei no Ensino Médio. Eu fiz dezoito anos. Eu tenho responsabilidades maiores que eu agora. E 2012 foi ano de leveza sustentável; de amigos, de poesia, de música boa, de família. Eu fiz tudo o que eu queria nesse ano. Eu assisti muitos dos meus sonhos se realizarem.
 Não quero me enrolar nisso. Feliz ano novo, aí.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

vera, what has become of you?

 Trocou a esperança inocente pelo sorriso de crocodilo. Já não é mais Junho querida, e os meses corridos te moldaram até que não reconhecesse a tua sombra ao meu lado, à minha frente. Repito de novo e mais uma vez; não me ensinou a ficar sem a sua presença mas já sei me virar. E o faço melhor que você - sou melhor atriz no seu teatro melancólico com máscaras felizes. Talvez até caberia jogar aqui um "do you remember me and how we used to be and do you think we should be closer?", mas ora, eu tentei e por quatro vezes tive as mãos atadas enquanto sentia os laços se desintegrando. Corda fina essa que usamos.
 Um dia você vai crescer, mon amour. Espero que você cresça, e olhe ao seu redor apenas para encontrar os espaços vazios onde nós estávamos. E talvez você olhará para trás e dirá que não deveria ter me afastado para longe. Talvez eu esteja te esperando. Talvez eu volte a ser sua melhor amiga. Talvez, talvez, e talvez.
 No final do dia... Só estou sendo feliz.

domingo, 23 de dezembro de 2012

sábado, 22 de dezembro de 2012

Boas Novas

Poetas e loucos aos poucos, cantores do porvir e mágicos das frases endiabradas sem mel, trago boas novas! bobagens no papel. Balões incendiados, coisas que caem do céu sem mais nem porquê. Queria um dia no mundo poder te mostrar o meu, talento pra loucura, procurar longe do peito. Eu sempre fui perfeito pra fazer discursos longos, fazer discursos longos sobre o que não fazer. Que é que eu vou fazer? Senhoras e senhores, trago boas novas! Eu vi a cara da morte e ela estava viva. Direi milhares de metáforas rimadas e farei das tripas corações, do medo minha oração pra não sei que Deus "H" da hora da partida a tiros de vamos pra vida. ENTÃO VAMOS PRA VIDA!

 Não deixei de existir, meu amado leitor inexistente, mas tenho me perguntando por quê não consigo escrever quando estou feliz. Como estou. E como estou! Eu fui para a vida, comecei a viver, diga o que quiser, sei é que abri os olhos. E que a inspiração me deixou porque estou feliz. 
(Como eu recomendo essa coisa de perceber que nada te falta.)

sábado, 15 de dezembro de 2012

Mesmo que não toquem a pele, como é doce o som das gotas que batem contra o guarda-chuva.
São Paulo sentiu sua falta, senhor.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

dial m for mercy :)

 you tell me that you got everything you want and your bird can sing but you don't get me, you don't get me! you say you've seen seven wonders and your bird is green but you can't see me, you can't see me. when your prized possessions start to wear you down look in my direction, i will won't be around. when your bird is broken, will it bring you down? you may be awoken but i won't be around. tell me that your heard every sound there is and your bird can swing, but you can't hear me!

 Acontece que em um desses dias eu virei a esquina e você não caminhava mais à minha frente. Meus olhos até viraram-se de um lado para o outro, talvez encontrassem algum indício de que você mudara de direção mas abracei o conformismo e com ele segui em frente. E enquanto andava, uma risada escapou. Depois de tanto tempo, pude finalmente rir de você e toda a sua idiotice. Eu estava lá o tempo todo, querida, todas as vezes que você reclamou não ter alguém para te ouvir e veja só! Ao menos uma vez, algo que sai dos seus lábios é verdade.
 É a minha vez de pensar no ato de misericórdia. 

sábado, 8 de dezembro de 2012

Shine brighter


Até seu rosto me comove. Há trinta e dois anos, o mundo perdeu alguém essencial, uma daquelas pessoas cuja falta muda o mundo, sabe? Pelo menos o meu mundo mudou (mesmo que eu não fosse um rascunho. Você me ensinou que os rascunhos são o que importa.). É, John Winston Lennon. Quem diria que seria assim tão importante.

Primeiro poema


O que quero não é importante
Diante daquilo que querem de mim
E, ah, essas ordens eu bem conheço!
“Estude, trabalhe, procrie,
Vista a máscara, torne-se a máscara.
És inteligente; defenda o comunismo e
Viva o capitalismo!
Se entretenha, para isso existem os vampiros.
Quem é esse tal de Aldous Huxley?
Olhe para esta boneca, tão bela...
Sei que queres ser como ela.
Olhe para este novo modelo, é revolucionário!
Sei que queres virar teu escravo.
Descanse, dance, balance.
Aceite, respeite.”
Mas quero mais do que isso, além disso
Quero o inexistente e descontente,
O verdadeiro e passageiro.
Quero cair, me jogar, me quebrar em mil pedaços
Existir e resistir.


Primeiríssimo. 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Rascunho

 É engraçado, pensar que estou bem e então começar a escrever; sabe que as palavras me açoitam e dizem tudo o que nem sabia que queria. Isso tudo foi ouvindo aquela velha canção e dessa vez não foi a voz do Steven Tyler que cantava para mim. Na forma mais pateticamente poeticamente clichê, são as suas palavras que cantam para que eu continue sonhando, como se fossem o seu último ato de misericórdia antes de lançar-me a minha própria sorte. E eu consigo. Todas as noites eu me surpreendo ao pensar que, de alguma forma, eu atravessei o dia. Nesse fim de ano aconteceram pequenas vitórias, coisas que me ensinaram que eu posso sim respirar sem o meu porto seguro, mesmo que sempre vá existir um buraco onde eu costumava encontrar a música e a poesia. Onde você estava.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

...we came in?]

 Não pude encontrar um título melhor do que a elipse do The Wall, porque, bem, isso é algo que nunca acaba. Sei que sou eu que continuo nesse eterno-retorno de sentir a sua falta e estar disposta a trocar tudo o que me aconteceu nos últimos dois anos se isso me deixasse voltar no tempo e fazer as coisas direito, deixar a vida acontecer como deveria.
 Essa manhã foi só mais um devaneio, um daqueles dias onde de alguma forma encontro maneiras de me orgulhar do que me tornei e que tento desesperadamente achar uma maneira de compartilhar o que sou hoje com você. Sou diferente do que era quando te machuquei, do que quando você me machucou.
 E como todas as vezes que tento escrever sobre você, não sei como terminar.

[Isn't this where...

domingo, 2 de dezembro de 2012

Já não quero palavras, nem delas careço.

 A vida tem sido gentil comigo; hoje escolhi meu lugar ao sol. Descobri que a prosa pode ser poesia nas mil metáforas que a frase implica. E crescer é bom. Dá medo. Medo e coragem de fazer o que nunca fiz e ser quem nunca fui. Tomar-se a si mesmo. Alcançar o si ao invés de sempre parar no ré.
 Acho que até recuperei o brilho nos olhos, e quem diria que para isso o que precisava era passar o dia inteiro em pé e chegar em casa no dia seguinte? É que os livros me fazem bem, sempre fizeram. Fui tomada por uma paz espiritual que parece querer colocar uma aliança nos meus dedos e a caneta não rabisca mais. Não. Dessa vez ela desenha sutilmente a brisa que bate nas árvores do Trianon e o Sol que, por uma vez, é da mesma temperatura da pele.
 Peter Pan é coisa do passado. Bato o pé e recomendo parar de lutar contra o tempo - é só aceitá-lo e fazer o melhor que pode com o que te é dado.

"As lições da infância
desaprendidas na idade madura.
Já não quero palavras
nem delas careço.
Tenho todos os elementos
ao alcance do braço.
Todas as frutas
e consentimentos.
Nenhum desejo débil.
Nem mesmo sinto falta
do que me completa e é quase sempre melancólico.

Estou solto no mundo largo.
Lúcido cavalo
com substância de anjo
circula através de mim.
Sou varado pela noite, atravesso os lagos frios,
absorvo epopéia e carne,
bebo tudo,
desfaço tudo,
torno a criar, a esquecer-me:
durmo agora, recomeço ontem.

(...)"
- C.D.A.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Se lembra quando...

Mudaram as estações, nada mudou, mas eu sei que alguma coisa aconteceu,
tá tudo assim tão diferente... Se lembra quando a gente chegou um dia
a acreditar que tudo era pra sempre sem saber que o pra sempre sempre acaba?
Mas nada vai conseguir mudar o que ficou, quando penso em alguém só penso
em vocês e aí então estamos bem. Mesmo com tantos
motivos pra deixar tudo como está. Nem desistir nem tentar e agora
tanto faz... Estamos indo de volta pra casa.

 É triste pensar nessa música, né? Quatro anos pareciam tanto tempo e agora não tenho nem o direito de mais seis horas com vocês. É o fim da maior e melhor parte das nossas vidas, chegou a hora de crescer e eu o fiz com vocês. Existem pedaços de cada aluno do Passionista em mim, existem lembranças, palavras, risadas e até lágrimas que fizeram parte do processo de transformação em tudo o que sou hoje. Marília, foram quatro anos falando de McFly, sendo idiotas e desabafando juntas e você era para quem eu corria quando precisava de um ombro que me entendesse. Gabi e Marcela, queria ter me aproximado de vocês antes... Mas o 3MA só se tornou suportável por ser ao lado de vocês, rindo da Marília ou até mesmo dormindo nas aulas. Erick, já disse que vou sentir saudades da sua risada escandalosa, né? Isabela,  das suas trufas e suas patadas. Gi, Mayara 1, Mayara 2, Pri 1, Pri 2, vocês fizeram três meses parecerem três dias, e acreditem, eu NUNCA vou esquecer vocês. Matheus, seus comentários desnecessários e nojentos vão deixar um vazio nas minhas manhãs. Victor, você é um idiota que deixou a minha bochecha roxa pro primeiro dia de trabalho e você sabe que eu te odeio só que... eu não te odeio e vou sentir MUITO a sua falta. Cuevas, lembro de você toda vez que tomo café e isso é todo dia, e nada mais justo do que te zoar mais uma vez porque sabe como é, as pessoas bebem mais café do que água. Marcos, Fernanda, Arthur, Michelli, quando eu conversava com vocês era coisa de horas e vocês me fazem tão bem. Guilherme, você me irrita e minhas manhãs serão um silêncio inimaginável sem as suas músicas e hiperatividade. Ananda, bom... Você fez o meu ano inesquecível e sabe, pode ser que eu nunca mais venha a falar com você mas eu sempre serei agradecida por você ter feito parte da minha vida. Por mais que às vezes eu pense que eu te odeio eu meio que te amo, e vou sentir saudades. Mais do que você pensa. Bárbara, Vivi, Milene, Aline, Guido,Otávio, Victor, enfim... Todos vocês vão fazer falta no ano que vem e não tenho nada além de obrigado a dizer. Obrigada por me ensinarem que a escola é um ambiente de aprendizagem que transcende as salas de aulas e a grade curricular. Obrigada por todas as brigas, todos os momentos de tensão e de alegria. Obrigada por me deixarem felizmente infeliz nesse final de 2012. Sabe, eu amo todos vocês.
E Thaís, Rafael, Stefanie, Leonardo, Henrique, Gabriela e Thalita (que não estão na escola mas eu preciso falar). Não tenho nada a dizer sobre vocês porque eu sou nada sem os sete e isso não acabou aqui.

Minha guitarra continua a chorar

Você é o Beatle que mais me comove, sabia? Toda vez que penso em você e tento escrever sobre você vem aquela explosão no coração. Tenho orgulho de dizer que você faz parte da minha banda preferida e que mudou minha vida. Orgulho. E não é pouco.
Você não morreu. Pelo menos não em mim.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

live and let live

 Tenho passado as noites tremendo de ansiedade e os dias delirando de sono.
 Não consigo escrever, quem dirá dormir. Já faz tempo. Isso é síndrome de história não resolvida, sabe? De medo do ano que vem (pra quem planeja cada minuto do dia, não saber o que estarei fazendo em 2013 não é legal). De coisa demais acumulada, de coisa que nem o mais apertado tourniquet pode segurar, quando mandar o explode coração! não daria certo. Eu quero o meu amor se derramando.
 É tempo de nostalgia de um período não tão longe assim, só um ano atrás. Quisera eu ter de volta a euforia de um ano novo, a confiança relativa que eu tinha em mim mesma. É perdendo que a gente aprende a dar valor. Mas é também perdendo que a gente aprende que não tinha valor; é apanhando que se aprende que não dá pra esperar só coisa boa das pessoas.
 Mas nem tudo nesse meio é ruim. Tenho convivido com alguma esperança, veja, de que as coisas vão voltar a dar certo. Com um novo emprego, sensação de estar crescendo e finalmente tomando a autonomia que sonhei por 18 anos. Claro que isso bate de frente com o medo de ser responsável por mim mesma e não saber o que fazer com isso - mas me sinto bem da mesma forma.
 Essa é a verdade, na verdade. Gosto dessa mistura de sentimentos. Acho que mudei desde que comecei a escrever esse texto; acho que recuperei parte da euforia. Quem sabe até consiga dormir hoje à noite.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

lunático


 O branco tomou conta dos seus olhos, que se abriram cansados e temerosos. Lembrava-se vagamente das últimas horas – como foi perseguido por milhas e milhas (ou assim lhe pareceu) até que suas mãos foram atadas. Foi nesse momento que sentiu a agulha fina perfurando seu corpo, enquanto o líquido quente invadia suas veias e sugava-lhe o ferro, deixando a sensação de formigamento no lugar. Lembrava-se do sentimento de inutilidade quando já não era dono de seus movimentos e só pode se deixar ser amarrado. E, agora que estava relativamente consciente, sabia que o momento que tanto adiara estava diante de si. Eles o pegaram.
 Voltou a sentir seus braços e pernas e soube que ambos estavam presos por panos fortes à cama. A cabeça ainda estava pesada demais para ser levantada, portanto restou-lhe o movimento dos olhos para perceber onde estava. Frascos que pareciam xaropes se alinhavam perfeitamente pelas prateleiras de um armário de vidro emoldurado por madeira rústica. Não havia janelas; a única saída era uma porta de aço que ficava na frente na cama, rodeada por paredes que eram forradas pelo que pareciam finos colchões brancos, dando-lhe a impressão de que poderia atirar-se contra elas e nenhum dano seria feito. Tudo no quarto era branco, exceto por uma única e solitária rosa vermelha, que repousava na mesa branca ao lado da cama.
Começo de um conto qualquer. Dois parágrafos sem conclusão podem fazer sentido se souber ler com outros olhos. 

O tal de Aldous Huxley de cara ficou doidão

Hoje é aniversário de morte e um dos meus escritores favoritos, Aldous Huxley - que formou meu caráter talvez até mais do que meus próprios pais. Obrigada, Huxley, por abrir as portas da percepção e me ensinar que hipnopedia e soma não são legais.
A inspiração tá longe ultimamente.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

I once had a boy or should I say 'he once had me'?

"As long as I was with him my troubles would stay away. That's the most important thing for a sickness like ours: a sense of trust. If I put myself in this person's hands, I'll be O.K. If my condition starts to worsen even the slightest bit - if a screw comes loose - he'll notice right away, and with tremendous care and patience he'll fix it, he'll tighten the screw again, put all the jumble threads back in place. If we have that sense of trust, our sickness stays away. No more snap!"
Norwegian Wood - Haruki Murakami

 Para qualquer um que já achou que tudo ficaria bem se estivesse com outra pessoa. 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Carta para ninguém

 Fiz besteira.
 Era o que eu costumava dizer quando isso acontecia. Eu escolhia alguém de confiança e dizia “fiz besteira”. Mas isso foi uma época diferente. Naqueles dias eu procurava conforto e ajuda, enquanto hoje tenho a consciência de que foi só dessa vez. Uma vez pelo ano inteiro, esse dois mil e doze que está finalmente acabando.
 Eu me lembro bem do começo do ano, tão bons foram aqueles dias. Diziam-me que eu parecia melhor, que no ano anterior eu andava abatida e tudo era verdade. Naqueles primeiros meses fui tomada por uma leveza, uma calmaria e até esperança que nunca conheci antes. Mas sempre fui feita de pedaços e não demorou muito para que eu desmoronasse. Mesmo assim, algo estava mudando.
 Comecei a querer provar que era autossuficiente e este é um hábito que se mantém até hoje. Preferi conviver esses duzentos e quarenta e cinco dias com os fragmentos do meu corpo e alma do que deixar alguém me consertar. Também abandonei os péssimos hábitos dos anos anteriores e passei a me apoiar somente em discos e livros. E essa suposta autossuficiência me transformou em quem sou hoje, nove meses depois de me dizerem que eu “parecia melhor”.
 Gosto e desgosto dessa nova versão do meu eu. O reencontro (e em alguns casos encontro) com a literatura e boa música me permitiu abrir os olhos para inúmeras coisas, mas choque de realidade pode doer. Porém, essa foi a minha escolha, a minha preferência de entender e sofrer a realidade do que continuar a viver naquele mundinho estúpido onde eu precisava me encaixar. Acredite, apesar do teor cansado e melancólico deste relato, não me encaixar foi a melhor escolha.
 E assim o ano se desenrolou através de vales e montanhas. Agora que paro para pensar, o ano foi curto, mas as noites foram longas. Nunca fui muito próxima do sono, mas este ano ele pareceu terminar definitivamente o relacionamento comigo. Eu deitava (ou deito, pois estou na mesma situação neste exato momento) na cama e esperava por horas intermináveis pelo segundo de misericórdia onde eu finalmente cairia no sono. As noites sempre foram, para mim, o velho paradoxo de contentamento descontente. São o meu momento de inspiração, de criatividade, de vontade de escrever, e de pensar. Pensar é perigoso.
 Sem mais delongas, dois mil e doze foi um ano dispensavelmente indispensável (gostei dessa coisa de paradoxos hoje, hein?). Ouvi coisas que gostaria de poder apagar, fiz coisas que me arrependo mais do que em anos anteriores. Aprendi muito. Com livros, músicas e pessoas, apesar de eu não ser uma pessoa tão agradável quanto costumava ser. E todos esses sentimentos, lembranças e palavras que eu gostaria de apagar vieram à tona hoje e eu precisei tirar isso de mim. Da única maneira que eu conhecia.
 Não me arrependo. Como disse no começo, foi só uma vez pelo ano. Foi só pelo sentimento de leveza do “afterwards”.
                E eu aprendi que essa leveza é insustentável. 

domingo, 21 de outubro de 2012

Humanos, de menos humanos!

É noite de espetáculo,
de cores tão vivas e pessoas tão mortas;
de casos e acasos tão longes do solo.
Ora, mais valem verdades por linhas tortas!

Me mostram sorrisos tabelados
e me vendem mentiras ensaiadas.
Condenam olhares chocados
e condenam máscaras desmascaradas.

Um dia o velho gritou "Não é certo!
No meu tempo as coisas foram diferentes...
Na minha época não fiquei quieto,
na minha época me arrancaram os dentes."

Cretino! Mentiroso!

Século atrás, século a frente
e diga-me, mudou o quê?
Não houve povo outrora contente.
Desde sempre pessoas por quê?

Humano, de menos humanos;
de movimentos planejados,
de alegria por baixo dos panos,
de pensamentos engradados.

Dos velhos arrancam as dentaduras
enquanto dos jovens arrancam as asas.
Algo falta, sempre falta.
Falta o algo.

Algo pelo que gritar, mudar, quem sabe até lutar.
Falta o que falta, falta o algo.
Esse algo que não sei, falta decifrar
Falta que o algo torne-se algo.

Humanos, de menos humanos.
Condenados a sentir falta desse algo
que nos torne demasiadamente humanos.
Mas ser humano dá preguiça.

E preguiça não rima com algo.

Distopia é apelido

Não dá pra achar conforto aí.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Tempo


quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele
soprando sulcos na pele soprando sulcos?
o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina
sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma
(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)
acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim
                      e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás
 um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos
acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando
Viviane Mosé

Idalina

 Odeio aquelas conversas de hospital. "O que está tomando? Mora perto daqui? Veja, seu soro está acabando!" Não o meu. Quem me dera o mal-estar fosse apenas físico... Algumas coisas não são resolvidas com um litro de soro. Na realidade, hospitais são deprimentes. Todo aquele clima de abatimento, de doença, de preocupação, que faz pensar na morte. Não que o problema seja a morte, nunca tive esse medo do ato em si, mas é estranho pensar em um mundo sem mim porque tudo o que conheço é o mundo comigo! Bate aquela curiosidade de como ficarão sem você. A experiência me diz que dói, mas um dia você simplesmente aceita e para de pensar em quem se foi, até que um dia a lembrança volta e você se condena por não pensar em quem já foi tão querido um dia. Lembrei do sorriso dela; do brilho em seus olhos enquanto cuidava daquele jardim, aquelas flores que tanto amava, do afeto para com a casa, o amor pela natureza que a cercava. Sei, parece idealização, mas ela realmente existiu e eu cresci com ela. Contava os dias para os finais de semana e amava cada quilômetro da estrada para Arujá. E como era bom correr por aquele sítio, passar horas lendo com aquele ar de paz, de natureza, de tranquilidade, e tê-la ali sorrindo, brincando, contagiando qualquer um com o bom-humor e as festas semanais - todo dia era dia de comemoração. E de repente tudo isso acabou. A criança cresceu, e aquela tia amada se foi. Tão jovem e cheia de vida, como foi estranho não viajar mais, não contemplar os quadros que ela pintava com tanta perfeição. Tantos anos se passaram... Morrer é fácil. Quem morre não sente. Mas a morte deixa esse gosto amargo para quem fica, e ela não ensina a mudar a rotina, não existem meios para aprender a seguir em frente sem alguém tão importante. Mas temos que ir alguma hora, não é? Então que quando seja a minha vez, possa dizer que dei tudo o que podia dar de mim para as outras pessoas. Que eu não seja lembrada como a pessoa fria que me tornei, mas como ela. 
Dedicado a você, Idalina, onde quer que esteja. Você me deu momentos tão bons, por mais criança que fosse. Sinto a sua falta.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Quisera eu que isso fosse um poema.

Quisera eu algum dia ser poeta
E com olhos assim tão ternos
O mundo ditar.
Quisera eu na ponta da caneta
Deter o destino, o amor, o ardor
Fazer do papel realidade idealizada
E na ideia assim mergulhar.
Quisera eu me iludir!
Quisera eu ao menos uma vez
Os olhos fechar e na mente divagar
Caminhar pelo paraíso do poeta
A avenida do cronista
O jardim do romancista.
Quisera eu as palavras decifrar
E nelas a beleza encontrar.
Fugir para o desconhecido...
Quem liga para o hoje? O importante é o amanhã!
Este amanhã tão belo e assustador
Este amanhã incerto
Este amanhã que hoje surge.
Mas não sou poeta e na noite não enxergo o arco-íris
Não se confunda, querido leitor - isso não é um poema
Não há nestas linhas tortas lirismo, rima, sentimento
E não existe poema sem sentimento!
Hei de julgar-me pela falta de parágrafos
E por uma página o chão abandonar.
Quisera eu algum dia ser poeta.
Quisera eu...
Voltemos à prosa!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Todos os meus livros têm manchas de café

 Parei pra pensar no café.
 Nunca fez muito sentido, esse meu amor pelo café.
 Não só amor - admiração, vício e até uma certa idolatração.
 Adulação.
 Porque é o café minha divindade, meu transcendente, meu rei e governante.
 O café não te abandona, não faz de você mero objeto.
 O café não te machuca.
 É capaz de transformar a fervura em conforto
 E o amargo em alívio.
 É um prazer simples, alcançável, fácil.
 Não é preciso esperar que o café te encontre.

(Achei isso num caderno antigo, e sim, ele termina de repente... Não lembro o por quê disse mas foi interessante ver coisa passada.)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Meu problema é o realismo - é manter os pés no chão enquanto querem me fazer voar.

Sonhador.

Por mais que seja clichê, você me ensinou a ter medo dessa coisa de ser normal. Por isso, só tenho a agradecer, John. Você é parte do que sou e me ensinou muito. É aquela coisa de insubstituível, sabe...
Feliz aniversário, morsa.

domingo, 7 de outubro de 2012

E foi por bem querer...

 Eu sou sua menina, viu.
 E hoje o coração não tá cheio de poesia; hoje aumento o volume da música, mas a guitarra do David Gilmour não é alta o suficiente para calar os pensamentos. Hoje vejo como a Lua é grande - ela é grande, eu sou pequena. Hoje eu procuro o seu lado sombrio, e não pergunte como! encontrei o arco-íris na noite.
 Sou o apunhado de pedaços que espalham-se pelos lugares, pela cidade, pelo país. Pode me encontrar nos paralelepípedos de São Paulo ou no mar salgado do Rio de Janeiro; no tédio do Rio Grande do Sul ou no passado de Santa Catarina. Vá em frente, é sua vez de tirar outro pequeno pedaço! Guarde-o onde quer que esteja, essa parte tem o seu nome escrito, senhor - essa parte espera pela dor do bisturi arrancando-a. Doce é a dor, doloroso é o amor.
 Me fiz em mil pedaços pra você juntar. 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

 Brinquedos não foram feitos para te acompanhar durante a eternidade e droga!, desisti da minha boneca preferida.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Autoexplicativo.


But you didn't have to cut me off
Make out like it never happened and that we were nothing
And I don't even need your love
But you treat me like a stranger and that feels so rough
No, you didn't have to stoop so low
Have your friends collect your records and then change your number
I guess that I don't need, that though
NOW YOU'RE JUST SOMEBODY THAT I USED TO KNOW.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Crônica da noite

 Era noite de ligar a luz vermelha e cuspir seus suspiros e "ah, monsieur". Cortesã que era, bem sabia ser apenas um eufemismo para puta. Sua era a noite e deles era o prazer; há quem diga que o corpo era dela, mas todos sabemos como ela o entregava de bom grado diante da quantia certa de dinheiro - e este era o verdadeiro dono do seu ser. Sim, eram os homens que a possuíam, mas o dinheiro era a passagem. Era escrava e amante do dinheiro.
 E nesse vai e vem de clientes endinheirados surge o nosso herói. Garoto conhece garota. Ele detinha as notas e ela detinha o orgasmo; dançaram em frente ao espelho, disseram obscenidades e entrelaçaram-se entre os lençóis. Ele notou o chapéu coco ao lado do espelho. Chegava a ser cômico, imaginá-lo na cabeça da cortesã que exalava feminilidade por debaixo do seu corpo. Mas era também sensual à sua própria maneira. O chapéu coco era a vericidade de sua idealização. Através do chapéu coco sabia que a cortesã não era ordinária - não por ser uma cortesã, mas sim por imaginá-la caminhando com o chapéu coco na cabeça pelas ruas.
 Tornou-se cliente regular. Nenhum dos dois dava a importância devida a necessidade de que se pagasse pelo amor (se é que era isso que o fazia entregar-se à noite). Esqueceu-se de como podia ser perigoso apaixonar-se por uma cortesã. Ela, que sempre fora de todos e nunca tivera alguém seu, deliciava-se com as juras do herói enquanto alisava seus braços sensualmente. Quando a manhã surgia, o prestígio do pequeno monte verde era ainda mais prazeroso. Quem sabe poderia comprar um novo chapéu e livrar-se da maldita velharia que detinha! Odiava o chapéu coco. Era a metáfora de todos os seus dilemas, todos os seus feitos e jeitos malditos. Precisava se livrar do chapéu coco. 
 E nesse paradoxo as noites continuavam e a cada pôr-do-sol ele batia à sua porta e entregava-se ao êxtase momentâneo de sua companhia. Em seu clímax, olhava para o chapéu coco e colocava-o mentalmente na cabeça da cortesã. Sussurrava palavras de amor e acreditava ganhá-lo em retorno. Acreditava que um dia eles fugiriam juntos, comprariam uma casa no campo e um cachorro que os acompanhasse com croissants na boca.
 Qual foi a sua surpresa quando bateu à porta e não teve resposta. Girou a maçaneta, encontrando o quarto vazio e a cama perfeitamente ajeitada. A aba do chapéu coco aparecia discretamente por detrás do espelho. Não havia sinal da cortesã - havia apenas a lembrança impressa no tecido do chapéu. Observou-o por alguns segundos e, afinal, atirou-o furiosamente contra a parede. Maldito chapéu coco! Maldita cortesã! ordinária! prostituta! usurpadora! mercenária! Ordinária.
 Roxanne comprou um chapéu de plumas. O vestido vermelho contrastava-se com as luzes da cidade de Paris, e sorria como um crocodilo aos olhares maliciosos que pousavam sobre seu corpo. Andava de cabeça erguida, parcialmente alheia aos pescoços que viravam-se ao seu caminhar. Deixara a pequena cidade e o herói para trás, passou a gastar seus dias trabalhando como garçonete de um bistrô e suas noites como sonhadora ávida que nunca mostrara ser. Mudou o nome. Comprou um novo chapéu.

domingo, 30 de setembro de 2012

Roxanne

Roxanne, why does my heart cry?
Feelings I can't fight!
You're free to leave me but just don't deceive me
And please, believe me when I say I LOVE YOU!
E tem um conto vindo aí.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Can we stop the world from turning?

 Essa é uma tentativa de recriar o que havia escrito. De qualquer maneira, não quer dizer que tem menos significado...
 É a terceira vez que isso acontece, e sei que não deveria ter existido nem uma primeira. Não sei como começar isso sem soltar logo de cara um "eu sinto a sua falta" e, depois de tantos textos, poemas, metáforas e alusões resolvi ao menos uma vez ser direta. Você foi o meu melhor amigo. Na verdade, existem duas correções para essa frase. A primeira é que você foi mais do que o meu melhor amigo, mas toda essa saudade se dá por ter perdido meu amigo, meu irmão (porque é isso o que foi para mim). E a segunda é que você não foi, você é. Te perder nunca foi uma coisa da qual eu me recuperei, por isso não me importo se essa é a terceira ou a última vez que tento te incluir na minha vida mais uma vez. Só eu sei o quanto me arrependo de tudo e nada do que aconteceu ao mesmo tempo. Mas tem aquele um dia, aquele que fez com que tudo desabasse pela primeira vez, e sei lá, eu nunca te disse o por quê daquele dia, talvez porque eu sabia exatamente o que você ia dizer. E o que você pensava/pensa sobre mim sempre foi importante. Sei que muito tempo se passou,e perdi a conta de quantas noites gastei me perguntando se você sequer lembrava o meu nome. Toda a coragem que eu tinha foi usada nessas treze linhas, e dá um certo medo pensar na resposta que eu vou ter, porque não sei agir quando o assunto é você. Dá medo de te perder, mesmo que já o tenha perdido. Não vou me estender. Não vou pedir desculpas - sei que isso de nada vale. Eu sinto a sua falta, e é isso. Sinceramente.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A Insustentável Definição do Ser

 Olhei para o relógio, que marcava três horas da manhã; horário no mínimo interessante, eles dizem. Não que algo realmente interessante possa acontecer às três horas da manhã de uma quarta-feira, mas gosto desse horário, que de nada importou para o que vai ser escrito. A problemática do texto é que perdi o conceito de ser. Verbo e substantivo. Afinal, o que é ser e o que é o ser? O ser muda, tornando o ato de ser instável. E como pode uma pessoa afirmar "eu sou de tal jeito" se talvez em dez segundos a vida dê um tapa na cara e ela se torne um ser diferente do que foi? Por exemplo, não posso dizer que sou quieta - na verdade eu estou quieta, o que tornaria o verbo ser um uso errôneo do verbo estar, mas então de que vale a existência do ser e do estar? Não existe verdade absoluta. O hoje não é igual o ontem e o amanhã não vai ser igual hoje. Se alguém te diz hoje "eu sou sua amiga", não quer dizer que isso vai se estender por anos ou semanas. As coisas mudam. O ser muda. O ser deixa de ser. Talvez eu não seja o que fui quando comecei a escrever. O relógio marcou quatro horas da manhã. Não havia mais a magia de ser três horas. Virei para um lado qualquer e voltei a dormir.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O tempo não espera

 Quando foi que comecei a correr? Há alguns minutos o céu parecia tão azul... E então, mais rápido que um piscar de olhos, tudo mudou. A avenida se alongou e pessoas pareceram surgir de todos os cantos. E veio aquele sentimento de claustrofobia, embora não houve qualquer parede física por perto.
 Tomei consciência da minha própria existência e me lembrei da aula de Sociologia mais cedo. Lembrei de como uma mente cética e niilista leva ao vazio existencial. Deu vontade de ter fé e algo a mais no que acreditar; talvez algum tipo de transcendente pudesse levar meus pensamentos para longe daquele maldito lugar.
 Maldita avenida. Maldito John Lennon. Maldita Cásper Líbero e maldito Drummond. Maldita cafeína. Malditas árvores e malditos prédios - tinham de ser assim tão altos? Maldita alucinação, que fez meus passos parecerem leves por mais que jogasse os pés contra o asfalto. E, malditos à parte, é fim de ano. 

Kickin' around on a piece of ground in your hometown
Waiting for something or someone to show you the way
Tired of lying in the sunshine, staying home to watch the rain
You are yound and life is long
And there is time to kill today
And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run
You missed the starting gun.
And you run, and you run to catch up with the sun but it's sinking...

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Please, stay, I wanna hear you play.

 Não quero saber de poesia ou de Beatles ou de José de Alencar. Hoje não quero saber da chuva ou do sol, da comida ou da água ou do oxigênio. Hoje eu não me importo com o passado ou o futuro, as alegrias e as decepções, o medo ou a expectativa. Hoje não tô nem aí para paradoxos. Não quero andar ou correr. Gritar, esperar, criar, imaginar, respirar, deitar, brincar, transformar, falar... Nada disso importa hoje.
 Quero te ouvir tocar. Quero me afogar no seu compasso e tomar ar na sua batida. Quero que sejas tudo o que vejo, tudo o que ouço, tudo o que tenho, que seja meu disco novo, que não vai riscar ou quebrar. Cansei de música velha - é história velha, e de velho tenho o resto. Quero te ouvir esta noite e estar segura na música com você.
 Estou me enojando com a quantidade de textos amorosos estou escrevendo. Tá na hora de mudar isso, né...

domingo, 23 de setembro de 2012

Ouça-me rugir!

" - (...) Bem, poderei ter as pernas pequenas demais para o corpo, mas a minha cabeça é grande demais, embora eu prefira pensar que tem o tamanho certo para a minha mente. Possuo um entendimento realista das minhas forças e fraquezas. A mente é a minha arma. Meu irmão tem a sua espada, o Rei Robert, o seu martelo de guerra, e eu tenho a mente... e uma mente necessita de livros da mesma forma que uma espada necessita de uma pedra de amolar para se manter afiada. É por isso que leio tanto." Tyrion Lannister, As Crônicas de Gelo e Fogo: A Guerra dos Tronos (Livro Um)

sábado, 22 de setembro de 2012

Look what you've done to this rock n' roll clown.

Me lembra coisa demais.

Renasça enquanto há tempo

(Foi escrito há tanto tempo que já nem sei mais a data certa.)
Encontrava-se no topo do prédio mais alto da cidade, cercada por pessoas que comentavam sobre a paisagem perfeita que a altura lhes proporcionava. Tão perto do céu, tão alto quanto as nuvens, tudo tornara-se frágil. Aproximava-se cada vez mais da borda do prédio, observando os carros que iam e vinham na rua. Subitamente, como que empurrada por um sopro do vento, ela caiu. Não sentia medo algum, aprendera toda sua vida como fingir e, no momento, fingia que estava voando. A queda parecia nunca acabar, como uma metáfora de seu livro preferido. Toda a sua vida correu por seus olhos, todas as pessoas, lugares e erros. Ah, seus erros. De repente, sentia como se todos os seus certos e errados fossem apagados pelo vento batendo em seu corpo. Via a calçada se aproximando, e de repente arrependeu-se. Era tarde demais. 
 Sentiu uma dor incrível ao atingir o chão de concreto, e não podia fazer nada além de assistir inconscientemente a multidão que formava-se ao seu redor. Queria gritar por socorro, mas não encontrava sua voz. A única coisa registrada foi a voz doce de um homem que ajoelhou-se ao seu lado e sussurrou ao seu ouvido:
 - Renasça enquanto há tempo. 

Now in a heartbeat, I would do it all again

18/08/2012
 Encosto a cabeça no travesseiro; o silêncio faz com que as batidas do coração se tornem irritantemente altas (parece até hipnopedia). Coloco os fones de ouvido, e droga!, o mesmo maldito som ecoa na primeira música do Dark Side of The Moon. Dá vontade de gritar, arrancar, entregar-te o que há tanto já é seu. 
 Não o quero mais - dói demais. Descartar a página já não funciona mais, querido, tornou-se tão impregnado quanto a tinta da tatuagem que diz para deixar estar. Já és parte de mim; deixa-me ser parte de ti. 

"Não vale a pena passar a vida escrevendo."

21/08/2012
 Na mesa, o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e a tal biografia do Paul McCartney descansam desordenados; o copo de café já nem esquenta mais. Está frio, mas recuso o aquecimento da jaqueta de couro desbotada - um capricho, por certo vou reclamar quando ficar doente. Insuportável, amaldiçoo os adolescentes que insistem em ignorar os pedidos de silêncio na biblioteca.
 Insuportável, de fato. É impossível não pensar no quão fria venho me tornando, e em como há um ano eu não suportaria a ideia de sair sozinha ou ficar sem companhia durante muito tempo. Aprendi a achar um amigo nos livros, um amante na música e a necessidade de comunicação no papel e caneta; um afago nos raios de sol do Ibirapuera e autocomiseração no vento frio da Paulista.
 Afinal, aprendi a ser meu próprio soma. Não sei se é defeito ou qualidade; sei que muitas vezes sinto falta do que costumava ser. "Não vale a pena passar a vida escrevendo", disse alguém na Biblioteca de São Paulo. E se escrever for tudo o que ainda existe do meu antigo eu?

Te encontro e quero te perder

02/09/2012
Me acostumei a mentir, querido
Ao dizer que não te tenho aqui comigo.
Te encontro em noites mal dormidas,
em canções desafinadas,
te encontro onde me perco.
És como o cisco doloroso que incomoda os olhos,
és corrente de brasa - te encontro no café que queima a garganta.
Te encontro no escuro;
tua voz tão clara quanto os primeiros raios de sol.
Te encontro na oração descrente.
Te encontro no espelho quebrado.
Te encontro na mesma música e dança velha, meu amigo.
Te encontro e quero te perder.

Não consegui pensar em um título pra isso

03/09/2012
 Sozinha pelas ruas de São Paulo, o ar gélido e extremamente seco bate como lembrança de por quê estava ali. O cenário era complemento dos pensamentos quase niilistas que assombraram desde que acordei - os homens de terno que fumam seus cigarros, os músicos jogados na sarjeta e os poetas corteses debruçando-se com seus poemas em mão. A voz de Syd Barrett nos ouvidos era a explicação; não é ele o maior exemplo de loucura?
 Acordei pensando na loucura e no que deixa as pessoas loucas. E tem resposta? Se a encontrasse, talvez me taxassem de louca mas... Já não o fazem? Sei que sou louca, sempre fui, como a maioria de nós. Vai dizer que o cara do Dark Side of The Moon não faz sentido? Somos todos loucos. Essa mulher que faz careta para a máquina da frente do orelhão pintado de cérebro; só pode ser louca. Esse homem que acabou de apagar um cigarro e já procura nos bolsos a próxima dose de tabaco; louco (com alguma porcentagem de uma morte precoce).
 Mas existem tipos e tipos de loucura. Não dá pra mandar um "te vejo no lado sombrio da lua" se você achar que o cara vai se suicidar - ou talvez virar astronauta - para comparecer ao encontro. E são essas as pessoas que trancam nos hospícios. Por quê ninguém pensa na loucura (e veja bem, vamos trocar a palavra loucura por estupidez) de quem rouba ou mata ou mente? São presos; deveriam ser internados. Vê esse julgamento do mensalão, só tá servindo mesmo para criar a utopia de que depois dele a política não vai ser corrupta. Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que os outros...
 A verdade é que as pessoas ficam loucas para não perderem a razão. Transformam a loucura em arte, espalham a loucura e tornam-a sensata. Pelo menos mais sensata do que matar e roubar e mentir e não se tocar que tá tudo bem se o lunático está na grama; os loucos são as melhores pessoas. A loucura é relativa; a estupidez não. (Mas até aí, sou louca por pensar assim.)

Noite de espetáculo

10/09/2012
 Encarei o movimento das ondas, tão perfeitamente dessincronizado; meu corpo jogado na areia, deixe que o mar me arraste para longe daqui! Nem tudo embaixo do Sol está "in tune". O Sol queima, fere, é brasa que fere lentamente - é calor que tenta aquecer a alma, mas tudo o que arde é a pele. 
 Sou espectadora da vida; só assumo o papel principal no meu monólogo sem audiência. Sou quem tira a foto, quem abre as cortinas e quem controla a luz - sou quem diz que o show deve continuar. O papel coadjuvante também é importante, querido, sem ele o seu caráter de destaque não é tão interessante. 
 Deixo-me ser arrastada pela água salgada que faz doer os cortes, deixo meu corpo detrás das cortinas ser puxado para o desconhecido, sabe-se lá se o bom Senhor decidiu me buscar. Não, não fui levada para o desconhecido. Estou de volta à cidade grande.
 É noite de espetáculo.

A vida não é feita de suposições.

15/09/2012
 Leio o que quero, suponho que terminou. 
 Leio o que não quero, suponho que virei passado. 
 Suponho que não escreverei mais sobre ti,
 Suponho que sempre soube que me enganava.
 Me recuso a admitir - digo que é suposição
 Mas suponho que nunca vou parar de supor. 
 Suponha que a realidade venha à tona; 
 Que eu abra os olhos e veja que a vida não é feita de suposições.
 Talvez o céu não seja mais azul, 
 Talvez não existam palavras,
 Talvez eu descubra que não faz mais parte de mim.
 A vida não é feita de suposições.
 A vida não é feita de suposições.
 A vida não é feita de suposições.
 (Quem sabe se eu repetir aprenda que
 A vida não é feita de suposições).

Seu nome bem que podia estar aqui.

15/09/2012
 Não sei por quê resolvi escrever. É esse estado de "bêbada de sono" que faz querer digitar qualquer coisa, como se estivesse falando com alguém mas é sempre esse leitor inexistente. Cansei desse monólogo e fui procurar aquela que me deu a luz; caí em lágrimas. "Você tem que ser mais como eu, não dá pra ficar nessa dúvida", ela disse, e droga!, sei que ela está certa. Mas dá medo. Medo de perder o que tenho agora, que é melhor do que nada. Os textos são os mesmos há tempo demais, meu amor. E a situação é a mesma - por quê tem que ser ou rápido demais ou devagar demais? E mesmo que seja devaneio... a dúvida é insuportável. E por mais que a balança tenda para o negativismo, tem o maldito "e se". Dá medo. Medo de perder o pouco que tenho de ti. Medo de que deixes de ser passado, presente e futuro. E ainda assim sei que qualquer coisa é melhor do que esses joguinhos que podem ou não ser reais, assim como pode ser sim ou pode ser não, mas e se não for? E se for, corro o risco de perder tempo demais, assim como gastamos tempo de menos. Parece patético dizer isso quando apenas alguns meses se passaram, mas éramos jovens, muito mais jovens do que agora. Nunca nos encaixamos bem nessa coisa de adolescência, querido, mas não existe drama adolescente maior do que este em que me colocaste. Não me deu a chance de saber se é amor ou só um desejo irrefreável de ter-te mais perto do que agora, mas se a arma é o seu amor, atarei minhas mãos para você. O que quer que tenha sido, é o que quero. E o quero prolongado - e sei que assim posso tê-lo. Mas dá medo. Medo de ter entendido tudo errado; às vezes as palavras querem dizer o que querem dizer. E atos e olhares nem sempre vem carregados de dores e amores, às vezes são apenas produtos do ócio que me diz sentir. E ainda assim quero arriscar, mas onde está a maldita coragem? Não a tenho, pois sei que talvez tenha mais a perder do que a ganhar. E já perdi demais. Além disso não me ensinou a te esquecer. Você voltou quando comecei a sentir tua falta, assim sendo nunca tive a oportunidade de sentir o cheiro da sua ausência, e o temo. Temo que o odor seja desagradável - temo que eu me torne desagradável. Não sei como concluir esse texto porque não sei concluir o pensamento. Cabe aqui um "falar ou não falar: eis a questão". 

This girl wants you back again.

17/09/2012
 Sou aquelas cujos olhos pesam como as pedras que imagino carregar - sou aquela que não dorme há dias. Sou dona de lábios secos e cabelos descuidados. Sou quem canta melodias antigas e carrega livros empoeirados de páginas amarelas. Sou quem atravessa a cidade em busca de prédios mais altos e ruas mais largas. Sou quem encara estranhos e inventa suas histórias. Sou quem reza aos vermes e grita aos deuses. Sou quem tudo nota e nada diz. Sou quem pula do penhasco só para sentir o vento. Sou quem ri das sete faces do divino; metafísica não é bem o meu forte. Sou quem forja a espada e deixa de brandi-la. Sou quem corre sem paradas apenas para voltar duas casas. Sou quem atravessa o oceano e clama pelo conforto desidratado de um lar. Sou quem ri diante da perfeição. Sou quem declara guerra ao amor e, ainda assim, sou a tola que te deixou explodir no coração. Sou quem nada mais escreve, além de palavras mesquinhas sobre o amor. Ah, l'amour, l'amour... O estúpido e masoquista amor. Sou quem cansou de resistir. Sou quem, seu teu consentimento e conhecimento, entregou-se inteiramente a você. Sou quem canta this girl wants you back again. Sou quem teme e deseja sua voz. Sou quem se perde onde teus olhos começam. Sou quem se perde e te encontra. Sou quem bate à porta do clichê em teu nome. Sou quem canta e grita mas só pensa: this girl wants you back again.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Está chovendo de novo; pena que perco um amigo.

 "Será que esse Sol nunca vai embora?", ela se perguntava, fazendo o tão conhecido caminho para casa. Observava as pessoas ao seu redor; gostava de inventar suas histórias, que viajavam entre mulheres que flertavam com homens ao longo das ruas da cidade apenas para terminar a noite sozinhas, e crianças que dentro de alguns anos tornariam-se artistas com o coração sangrento. Imaginava histórias, e esquecia-se de escrever a sua própria - ela talvez não achasse interessante a maneira como as coisas seguiam naqueles dias ensolarados. O Sol não é tão interessante como a chuva, assim como a estabilidade não é tão espetacular quanto a instabilidade.
 Deparou-se com cinco ou seis crianças que corriam em círculos, umas atrás das outras, e soltavam gargalhadas altas e gritos de surpresa quando alguma delas tropeçava. Foi atingida por um sentimento de nostalgia, invadida por memórias dos anos em que a faculdade, os estereótipos, o dinheiro, a amizade, o amor, a responsabilidade e sua própria existência não eram fatores importantes. "Como é fácil", ela pensou, "brincar em cadeiras de balanço, sem se preocupar com a idade que se tem". E como a idade os dezessete anos são um problema! Não são dezesseis e nem dezoito. Como pode uma pessoa agir como dezessete?
 - Você age como criança às vezes.
 - E qual o mal nisso?
 - Não vai dar certo. Eu não sou criança. 
 - Pois devia. 
 - ...
 - Vou sentir sua falta.
 - ...
 Uma pequena gota de chuva escorreu de seus olhos. Quase conseguia vê-lo ali na sua frente, embora soubesse que ele estava longe demais para ser visto. Cerrou os olhos numa tentativa inútil de se prender àquela alucinação. As gotas da chuva eram agora pesadas e não havia muito o que se enxergar, e ela correu. Correu para onde ele estivera. E tudo o que encontrou foi o portão de casa.


P.s.: Vou colocar meus textos aos poucos aqui. Acontece que blogspot é mais fácil que o weebly haha