domingo, 31 de março de 2013

Because something is happening here but you don't know what it is,

do you, Miss Nothing?

 Entra na sala com o pincel nas mãos, mas o estranho já se foi. Aqui está você de novo, pequena Charlotte, e enfim te encontro lutando contra a insônia como se o ontem fosse hoje. Mas falávamos sobre o estranho; ainda ontem esteve aqui para devolver sua garganta e agradecer pelo empréstimo. Também me pediu para te deixar um recado. Ele disse: "Te ligaram e disseram 'beware doll, you're bound to fall' e você achou que estavam brincando." Acredito que até acrescentou um all right, Miss Lonely ao final da nota, mas o nada já é pesado. O importante é que aqui está a sua gargante de volta!
 Aqui está sua voz de volta. Ah, querida, você sabe tão bem qual a sua arma para sair do labirinto - tudo o que a esfinge te pede é a solução de um enigma. O que está acontecendo? Não é o mundo que está ao contrário, é só você; quando não esteve? Que a verdade seja dita, fez-se o contrário para que pudesse voltar a encher essas páginas sem pauta. E agora sai batendo à porta de cada esquina, cinema, livraria e botequim que essa São Paulo tem a lhe oferecer, mas a cidade pode te trair, Charlotte. A cidade pode mentir. Não é todo dia que Drummond vai achar uma flor que nasceu no asfalto - e se Drummond não acha,  quem é você para procurar?
 Irônico é o modo como você costumava gritar How to Be a Heartbreaker quando sempre soube que tava mais pra Jugband Blues. Você prometeu que nunca se comprometeria com esse estranho da... De onde veio, mesmo? Não que importe. Não estamos vendendo nenhum álibi e ele te chama agora, não pode recusar. Bob Dylan te ensinou que quando não se tem nada, não há nada a perder. Isso já faz tempo, Charlotte. Desde que decidiu chamar-se Charlotte. Maldito dia esse, não?

 Tinha planejado algo tão melhor do que esse monte de frases soltas do Dylan, mas às vezes as coisas ruins são o que define. Logo eu volto a escrever alguma coisa boa.


domingo, 17 de março de 2013

Da falta de coragem.


Through the fish-eyed leans of tear stained eyes
I can barely define the shape of this moment in time
And far from flying high in clear blue skies
I'm spiralling down to the hole in the ground where I hide.

 Como se fosse Alice. Só eu sei como queria que a queda fosse tão agradável quanto Alice a tornou, com todas as suas estantes de livros e pianos pairando ao seu redor - o que diria sobre os meus cigarros apagados e copos de café vazios? A queda está sendo grande, querida, e digo "está sendo" porque nunca acabou, nunca acaba. Já ouviu falar em ciclo vicioso? Pois é. 

If you negotiate the minefield in the drive

And beat the dogs and cheat the cold electronic eyes
And if you make it past the shotgun in the hall,
Dial the combination, open the priesthole
And if I'm in I'll tell you what's behind the wall.

 Eu derrubei o meu muro na hora errada; devia ter esperado pelos gritos de "tear down the wall" em vez de desistir logo no "leaving just a memory". Resta procurar por um abrigo, enquanto os tão falados porcos voadores te ensinam o significado de escárnio, quando riem de você e por Deus, são porcos voadores! Porcos voadores fazem sentido (quando quer estar atrás do muro). 

There's a kid who had a big hallucination

Making love to girls in magazines.
He wonders if you're sleeping with your new found faith.
Could anybody love him
Or is it just a crazy dream?

 Cansei de escrever sobre devaneios e tornar poética a frase sobre porcos que voam. Quero uma vida real, me interessar pelo real, sem viver na sombra de tudo aquilo que eu queria que fosse. A vida não te dá o que quer, dá o que precisa. E às vezes você descobre que não precisava tanto assim, capas de revista podem mentir, fotografias não são provas da verdade. 

And if I show you my dark side

Will you still hold me tonight?
And if I open my heart to you
And show you my weak side
What would you do?
Would you sell your story to Rolling Stone?
Would you take the children away
And leave me alone?
And smile in reassurance
As you whisper down the phone?
Would you send me packing?
Or would you take me home?

 Venda sua história para a Rolling Stone, já nem me importo. Faltam as palavras toda vez que tento mostrar esse lado para alguém - e tem você. O passado assombra. Demora para ser passado. Demora para passar.

Thought I oughta bare my naked feelings,

Thought I oughta tear the curtain down.
I held the blade in trembling hands
Prepared to make it but just then the phone rang
I never had the nerve to make the final cut.
"Hello? Listen, I think I've got it. Okay, listen its a HaHa!" 

 Boa parte das cicatrizes já sumiram.

segunda-feira, 11 de março de 2013

In The Flesh?


 "Então você achou que poderia gostar de vir ao show?
 O calafrio aconchegante da confusão é ilusório, sunshine, e isso certamente não é o que você esperava ver. As cortinas se abrem mas o vermelho vivo continua poluindo seus olhos, e o palco torna-se irritante, enjoativo. A banda começa a tocar, indigna de qualquer aplauso. 
  A pianista toca melodias fora de ritmo e aceleradas, bailarinas dançam desastradamente para a platéia indignada. Ah, pois a sua presença é dispensável, mon amour. Neste show improvisado só existe espaço para erros e dores e incertezas. 
 A música torna-se mais pesada, batidas fortes como o coração do maestro que é só mais um tijolo no muro. E os espectadores que são só tijolos no muro. Mas somos tijolos que cantam e choram e sangram e vivem em um palco sem audiência, esperando que um desavisado entre no teatro e apenas… Se interesse.
 If you wanna find out what’s behind these cold eyes, you’ll just have to claw your way through this disguise."
14 de Abril de 2012.

"Talvez eu esteja condenada à passar a vida escondida através dos meus heróis, com fones de ouvido e uma melodia qualquer dos Beatles me salvando do tédio que é a humanidade. E quer saber? Eu nem me importo."
12 de abril de 2012.
 As metáforas são perigosas; disso eu sei faz tempo. Só me resta descobrir se são mais perigosas do que as palavras nuas. Faz tempo desde a última vez que resolvi desnudar as palavras e me mostrar para alguém que não eu mesma (ou até eu mesma).

domingo, 3 de março de 2013

Are you mine? (Título alternativo: am I mine?)

 Pensei em fazer desse texto poesia, mas há muito meus dias não são poesia; correria e responsabilidade não são outro que não prosa (embora eu certamente esteja me equivocando ao generalizar). De qualquer forma, seria hipócrita se dissesse que minha vida não tem lá seus minutos de poesia - naquelas ligações inesperadas, dentro da sala de aula do curso que tanto amo, nas pessoas com quem convivo. O que preciso é de mudança. De mais tempo pra mim e menos pra sociedade. Faz tempo que não falo sobre sociedade, né? A vida me sugou ao ponto de não ter mais palavras afiadas e pensadas na ponta da língua, uma página de um livro entre os dedos ou uma melodia do Pink Floyd nos ouvidos e na mente.
 Se você pode se apaixonar por correntes de prata, pode se apaixonar por correntes de ouro. Não sei o motivo dessa frase vir à tona, mas já parou pra pensar em como é verdade? E eu sou tão fácil... Não é o amor que reina sobre mim, é só a ingenuidade mesmo, essa falsa teoria de que todos têm algo bom a oferecer. Mas não me importo de ser a culpada do que está por vir; eu quero mais é arriscar mesmo. Se eu soubesse há três anos que seria como sou hoje, provavelmente não acreditaria - e provavelmente almejaria. Gosto do que me tornei. Pode me assustar. Mas eu gosto.
 Um brinde ao otimismo que voltou a me abraçar. Quem sabe o próximo não é poesia.
o que o título tem a ver mesmo?