domingo, 30 de junho de 2013

Mona Lisas e Chapeleiros Malucos

Se lembra do chapéu coco, meu amor? Ouvi dizer que o chapeleiro perdeu um parafuso; agora ele quer descobrir a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha. Mal sabe ele que Stephen King é passado. Stephen King, certo?
Mas na verdade quero dizer que encontrei o filho do banqueiro hoje. Também perdeu um parafuso, esse aí. Se afogou no seu mundinho de contas e papéis. Verdes, na maioria das vezes. Ele se esqueceu de olhar para o céu, querido. Agora mal sabe se é dia ou noite. Desde que suas contas estejam certas.
E eu? Tenho esse sorriso que tenta ser de Mona Lisa mas está mais pra crocodilo. Crocodilo quer dizer malícia, quer dizer carícia, quer dizer astúcia e diz mais ignorância. Ignorante por ser Mona Lisa. Eternamente condenada a sorrir enigmamente para estranhos e mentir seu nome quando cai a noite. Em vez de Penny, seria Mona Lisa.
Você sabe qual é a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha?

sábado, 15 de junho de 2013

Ei, você aí de terno (The City is At War)

São Paulo acordou, é isso mesmo? Sabe que eu nunca vi coisa mais bonita do que todas aquelas pessoas na Avenida Paulista gritando em uníssono "vem pra rua, vem!" e "o povo unido jamais será vencido!" mesmo diante da visão da Tropa de Choque e cavalaria nas ruas da cidade. Vai me chamar de exagerada, mas é a sombra do DOPS que eu vejo nessa minha Paulista.
Mesmo assim me dá orgulho ver que as pessoas decidiram sair da sala de jantar pra ver que tem muito mais entre o nascer e o morrer. E você aí de terno, você aí fardado; esse é o seu povo. O povo que fechou os olhos e fingiu poder confiar na sua falsa segurança, mas isso cansou. Ignorância cansa. As pessoas acordaram e querem mais é que São Paulo queime com os fogos dos gritos contidos da população.
A cidade está em guerra. E vamos cobrar com juros, juro. Segunda-feira vou perguntar pro motorista se o salário aumentou.

domingo, 2 de junho de 2013

Tem gente que não ouve Outside The Wall

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Sabina

Hoje a noite pertence a Leminski
e a certeza de que um dia tudo será poesia
escondida em palavras meticulosas
e frases em frações de segundo.
Um segundo é o que preciso.
Maldita leveza;
maldita leveza insustentável
e maldita sustentabilidade.

2am, who do you love?

Bella Donna caminha pelas ruas de São Paulo. Tão frias esse mês. Há pouco tempo meninas davam risadinhas e piscadelas para rapazes em seus vestidos curtos e salto alto. Agora Bella Donna passeia com sua calça jeans desbotada e tênis usado como se fizesse parte desse mundo e não de outro. Ela se esquece fácil demais de que não é nenhuma flor de jardim.
Parece que foi ontem que atravessou aquela Avenida Paulista com um copo de café na mão e o livro de Drummond nas mãos. Parece que foi ontem, mas a poesia sumiu da sua alma há alguns meses já. Tantas são as hipóteses. A poesia a deixou quando seu tempo foi ocupado, ou talvez quando ela o conheceu naquela noite onde conheceu a todos, talvez ainda quando ela escolheu a noite ao livro de Drummond.
É tempo de homens partidos. Bella Donna sabe muito bem disso. Homens partidos geram corações partidos, mas isso é o que chamam de crescer. Bella Donna não tem mais dezesseis ou dezessete anos (não que algum dia tivesse a sua idade verdadeira). Ela não é nenhuma rosa inglesa, sabe? Bella Donna pensa que é forte, mas são duas horas da manhã e ela se pergunta quem ama. Quem ele ama. Quem a ama.
Bella Donna já deveria ter aprendido que essa coisa de amor é perda de tempo. Bella Donna deveria se preocupar com a música sobre a Irlandesa há muito partida.