sábado, 22 de setembro de 2012

Renasça enquanto há tempo

(Foi escrito há tanto tempo que já nem sei mais a data certa.)
Encontrava-se no topo do prédio mais alto da cidade, cercada por pessoas que comentavam sobre a paisagem perfeita que a altura lhes proporcionava. Tão perto do céu, tão alto quanto as nuvens, tudo tornara-se frágil. Aproximava-se cada vez mais da borda do prédio, observando os carros que iam e vinham na rua. Subitamente, como que empurrada por um sopro do vento, ela caiu. Não sentia medo algum, aprendera toda sua vida como fingir e, no momento, fingia que estava voando. A queda parecia nunca acabar, como uma metáfora de seu livro preferido. Toda a sua vida correu por seus olhos, todas as pessoas, lugares e erros. Ah, seus erros. De repente, sentia como se todos os seus certos e errados fossem apagados pelo vento batendo em seu corpo. Via a calçada se aproximando, e de repente arrependeu-se. Era tarde demais. 
 Sentiu uma dor incrível ao atingir o chão de concreto, e não podia fazer nada além de assistir inconscientemente a multidão que formava-se ao seu redor. Queria gritar por socorro, mas não encontrava sua voz. A única coisa registrada foi a voz doce de um homem que ajoelhou-se ao seu lado e sussurrou ao seu ouvido:
 - Renasça enquanto há tempo. 

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