quinta-feira, 22 de novembro de 2012

lunático


 O branco tomou conta dos seus olhos, que se abriram cansados e temerosos. Lembrava-se vagamente das últimas horas – como foi perseguido por milhas e milhas (ou assim lhe pareceu) até que suas mãos foram atadas. Foi nesse momento que sentiu a agulha fina perfurando seu corpo, enquanto o líquido quente invadia suas veias e sugava-lhe o ferro, deixando a sensação de formigamento no lugar. Lembrava-se do sentimento de inutilidade quando já não era dono de seus movimentos e só pode se deixar ser amarrado. E, agora que estava relativamente consciente, sabia que o momento que tanto adiara estava diante de si. Eles o pegaram.
 Voltou a sentir seus braços e pernas e soube que ambos estavam presos por panos fortes à cama. A cabeça ainda estava pesada demais para ser levantada, portanto restou-lhe o movimento dos olhos para perceber onde estava. Frascos que pareciam xaropes se alinhavam perfeitamente pelas prateleiras de um armário de vidro emoldurado por madeira rústica. Não havia janelas; a única saída era uma porta de aço que ficava na frente na cama, rodeada por paredes que eram forradas pelo que pareciam finos colchões brancos, dando-lhe a impressão de que poderia atirar-se contra elas e nenhum dano seria feito. Tudo no quarto era branco, exceto por uma única e solitária rosa vermelha, que repousava na mesa branca ao lado da cama.
Começo de um conto qualquer. Dois parágrafos sem conclusão podem fazer sentido se souber ler com outros olhos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário