sábado, 13 de abril de 2013

Boa noite, Charlotte

 Charlotte fechou os olhos, já não tinha piscado por algum tempo. Mas a noite pareceu insuportavelmente vívida ali, com os olhos fechados, então contentou-se por encarar a escuridão. Lá fora, os pingos da chuva que a assustou e acalentou caíam furiosamente sobre os telhados das casas de luzes apagadas e janelas fechadas. Perdera a noção do tempo - talvez já fosse noite novamente. Outra noite de espetáculo para a qual não estava pronta.
 Revirou-se na cama, à procura dos lençóis que se perderam em algum ponto do dia, tarde ou noite. Charlotte encontrava-se vazia, perdida no próprio quarto que de súbito parecia grande demais para confortá-la. Sabia bem onde queria estar. Porém, aprendera por toda a sua vida que o querer é tão, tão diferente do poder. E justo na noite anterior o querer sem poder fizera com que fosse obrigada a aguentar esse silêncio tão ensurdecedor em sua própria casa.
 Não achei que te encontraria em mim mais uma vez, Charlotte. Sabemos o que temos que fazer agora, não é? Primeiro pegaremos aquele 1984 e rasgaremos suas páginas em protesto ao Grande Irmão. Depois colocaremos as palavras da nossa pequena Alice em nossos lábios e faremos delas os nossos mantras. Então será a hora de cantar "if I go insane please don't put your wires in my brain" e torcer para que alguém nos ouça e atenda ao pedido. Abaixaremos os olhos para as cenas românticas na televisão e arrancaremos penas das minhas asas para continuar enchendo essas páginas de metáforas roubadas. Porque você sempre foi parte de mim e eu torço para que me deixe.

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