domingo, 6 de janeiro de 2013

Quando Florian tornou-se um palhaço bêbado

 Um dia, ao atravessar a rua, me deparei com um palhaço de sorriso triste e olhos caídos.Inconformada, exigi: "anda, palhaço, faz-me rir!" e ele riu. Riu de mim, enquanto braços finos apontavam para o cemitério. Foi nessa que percebi que morri, mas me esqueci de morrer, o desespero me abraçou enquanto caminhava até a cova e de súbito lembrei que era alérgica às flores de parentes saudosos nos túmulos ao meu redor. Por tempo demais não tive o caderno na ponta da caneta; do que é que se fazem as letras? Meu problema é a sua leveza fingida, que me sufoca e me faz tomar ar naquilo que tanto condenamos. Poderia ter me feito senhora de seus outrora tão belos castelos, mas o bobo assumiu o papel de palhaço e o castelo tornou-se lápide - o epitáfio fala sobre abandono. Abandono do que poderia não ter sido e foi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário